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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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conseguem convencer o general contra a renitência expressa <strong>de</strong> praticamente todas as<br />

outras correntes. Segundo Virgínia Moura:<br />

Carvalhos (...).<br />

“O Partido trabalhou muito bem e o comício começou mesmo nos<br />

Calculámos que estariam lá mais <strong>de</strong> 150 mil pessoas. Todos os<br />

caminhos corriam para ali e só se viam passar taxis, carros, camionetas,<br />

eléctricos, por aquela avenida, todos apinhados <strong>de</strong> gente. A partir <strong>de</strong> certa<br />

altura, nos transportes públicos ninguém pagava.<br />

Houve muitos oradores, os discursos constantemente interrompidos.<br />

Sim, também falei, <strong>de</strong>fendi as posições do Partido e reproduzi a<br />

nossa análise da situação política, <strong>de</strong>nunciando as arbitrarieda<strong>de</strong>s do<br />

fascismo, referindo os presos políticos, os camaradas mortos na PIDE, os<br />

problemas das mulheres e dos trabalhadores em geral, os problemas<br />

económicos, as crianças que procuravam comida no lixo. Apresentei as<br />

nossas soluções” 445 .<br />

Noutros locais, em Coimbra, na Pampilhosa, em <strong>Lisboa</strong>, evi<strong>de</strong>ntemente, mas<br />

também mais a sul, em localida<strong>de</strong>s como Évora, Beja, Grândola ou Santiago do Cacém<br />

mesmo que mais mo<strong>de</strong>stos em número <strong>de</strong> participantes, regista-se essa mobilização.<br />

Alexandre Babo <strong>de</strong>screve como num comício <strong>de</strong> campanha em Coimbrões, o<br />

respeitável Artur Santos Silva <strong>de</strong>ita fora o discurso preparado, abandona a poli<strong>de</strong>z , das<br />

palavras e entra num registo <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia vigorosa do regime, das suas arbitrarieda<strong>de</strong>s e<br />

iniquida<strong>de</strong>s, galvanizando uma assistência que chama aos gritos <strong>de</strong> “assassinos” e<br />

“bandoleiros” os governantes e chega mesmo a clamar por armas 446 .<br />

Contra as regras vigentes, muitos comunistas avançam sem prestar contas aos<br />

seus organismos. Joaquim Campino que, a norte <strong>de</strong>sempenhava funções <strong>de</strong> controlo<br />

político a partir do aparelho clan<strong>de</strong>stino do partido, menciona esta situação com<br />

severida<strong>de</strong>:<br />

“Uma gran<strong>de</strong> parte dos organismos partidários não estiveram à<br />

altura <strong>de</strong> calmamente e disciplinadamente continuar na sua tarefa e actuar<br />

como organismos dirigentes capazes.<br />

O alvoroçado entusiasmo da candidatura fez esquecer à maior parte<br />

dos nossos camaradas, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submeterem à aprovação e<br />

445 Virgínia Moura, Mulher <strong>de</strong> Abril. Álbum <strong>de</strong> memórias, Ed. Avante!, <strong>Lisboa</strong>, 1996, pp 48-49<br />

446 Cf. Alexandre Babo, Recordações <strong>de</strong> um caminheiro, Escritor, <strong>Lisboa</strong>, 1993, p. 182<br />

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