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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Evi<strong>de</strong>ntemente que o total isolamento <strong>de</strong>stas jovens face ao mundo exterior,<br />

passando a viver exclusivamente em torno da manutenção e da <strong>de</strong>fesa da instalação,<br />

criando condições para que o companheiro que com ela a habitava tivesse asseguradas<br />

as mínimas condições logísticas, fazia com que, dado o estreito relacionamento<br />

proporcionado, mais cedo que tar<strong>de</strong> ambos se envolvessem emocionalmente. E isto<br />

podia acontecer não uma, mas várias vezes, em função do próprio percurso que<br />

<strong>de</strong>senvolviam no interior do aparelho clan<strong>de</strong>stino do partido.<br />

O partido sabia perfeitamente disso, gerindo estas situações. Era preferível, sem<br />

gran<strong>de</strong> margem <strong>de</strong> dúvida, que as tensões emocionais, afectivas e sexuais fossem<br />

resolvidas no quadro da instalação clan<strong>de</strong>stina, reguladas e mediadas pelo partido, do<br />

que evoluíram para situações que pu<strong>de</strong>ssem fugir ao seu controlo e, por essa via,<br />

constituir factores <strong>de</strong> perigo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a nível conspirativo.<br />

No caso dos funcionários isolados, quando isso por algum motivo excepcional se<br />

verificasse, po<strong>de</strong>riam, segundo J. A. Silva Marques recorrer à prostituição “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

isso pu<strong>de</strong>sse acontecer em condições <strong>de</strong> segurança conspirativa, que <strong>de</strong>viam ser<br />

<strong>de</strong>vidamente analisadas e seguidas pelo «controleiro»” 1527 , isto é, supervisionadas pelo<br />

próprio partido, que os autorizava e dos quais não tinha conhecimento concreto,<br />

po<strong>de</strong>ndo e <strong>de</strong>vendo, inclusivamente lançar essa <strong>de</strong>spesa na rubrica do balancete mensal<br />

i<strong>de</strong>ntificada como “<strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> higiene”.<br />

No entanto, a tendência dominante seria con<strong>de</strong>nar a prostituição e evitar que o<br />

funcionário frequentasse ou recorresse a esse meio, o que levava Martins Rodrigues a<br />

enten<strong>de</strong>r que “por razões <strong>de</strong> segurança, que era sempre a preocupação primordial do<br />

militante ilegal a prostituição era con<strong>de</strong>nada, vista como uma situação <strong>de</strong>gradante,<br />

moralmente baixa e portanto inaceitável para um comunista frequentar prostitutas,<br />

para além do mais” 1528 .<br />

Daí o esforço para manter uma situação nas instalações que resolvesse<br />

naturalmente esse problema, sendo aconselhada a aproximação e o envolvimento entre<br />

os militantes instalados nas casas, naquilo que Silva Marques <strong>de</strong>signa <strong>de</strong> “casamento <strong>de</strong><br />

conveniência ou se se quiser, <strong>de</strong> serviço” 1529 , porque imediatamente sancionado pelo<br />

partido.<br />

No caso <strong>de</strong> Manuel Rodrigues da Silva, do Comité Central, solteiro ao regressar<br />

em 1946 do Tarrafal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um período largo instalado em “ pontos <strong>de</strong> apoio” ou em<br />

1527 J.A. Silva Marques, Relatos da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. O <strong>PCP</strong> visto por <strong>de</strong>ntro, <strong>Lisboa</strong>, Edições Jornal expresso, 1976, p. 308-309<br />

1528 Francisco Martins Rodrigues, História <strong>de</strong> uma vida…, p. 28<br />

1529 A. Silva Marques, Relatos da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>…, p. 309<br />

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