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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Oscilando entre o retrato <strong>de</strong> um Salazar completamente pró-nazi e a inclinação<br />

que toma em relação aos aliados e <strong>de</strong>signadamente à Inglaterra, a posição do <strong>PCP</strong><br />

posiciona-se em torno da i<strong>de</strong>ia que o <strong>de</strong>rrube do regime po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisivamente<br />

animado pela <strong>de</strong>rrota dos fascismos na <strong>guerra</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo, no essencial da iniciativa e<br />

da acção populares e não <strong>de</strong> uma libertação vinda do estrangeiro. Será, ao fim e ao cabo,<br />

este ponto <strong>de</strong> vista, pelo menos assim formalmente apresentado, aquele que melhor se<br />

a<strong>de</strong>quará à fase <strong>de</strong> ofensiva popular 291 que vinham afirmando estar em curso.<br />

Por isso, em Dezembro <strong>de</strong> 1943, da importante reunião às portas <strong>de</strong> Sintra, em<br />

que o MUNAF se institucionaliza com a constituição do Conselho Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong><br />

Antifascista, o <strong>PCP</strong> encarrega-se divulgar o comunicado aprovado nessa reunião que<br />

proclama como primeiro objectivo “Preparar e levar a cabo a supressão do actual<br />

govêrno e, em sua substituição, instaurar um Governo Nacional Democrático em que<br />

estejam representadas todas as correntes <strong>de</strong> oposição anti-fascista e que dê ao Povo<br />

Português a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher em eleições verda<strong>de</strong>iramente livres os seus<br />

governantes” 292 .<br />

Nessa reunião, se a formulação do tipo <strong>de</strong> governo pós-ditadura satisfazia o que<br />

sustentavam os comunistas, já a ambiguida<strong>de</strong> em torno da via para o <strong>de</strong>rrube <strong>de</strong> Salazar<br />

era mais notória e significativa, pois ao putchismo dos sectores não comunistas<br />

respondia o <strong>PCP</strong> com o levantamento nacional, um movimento em que a <strong>de</strong>cisiva<br />

participação popular, a impetuosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um movimento grevista generalizado e<br />

insurreccional, se articulasse com o pronunciamento <strong>de</strong> sectores militares.<br />

Assim, em 1944, o Partido Comunista encarava o <strong>de</strong>rrube <strong>de</strong> Salazar<br />

como um objectivo central e cujo horizonte se afigurava próximo. Isso significava<br />

insistir em dois eixos fundamentais <strong>de</strong> acção política. Por um lado, dotar o MUNAF <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong> operativa, intervenção própria, clareza <strong>de</strong> procedimentos e objectivos e, por<br />

outro, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar novo movimento grevista <strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> que se assemelhasse e<br />

ultrapassasse o <strong>de</strong> Julho-Agosto <strong>de</strong> 1943.<br />

Em Março-Abril <strong>de</strong> 1944, agravava-se a escassez <strong>de</strong> géneros <strong>de</strong> primeira<br />

necessida<strong>de</strong> no mercado e a assanhar toda esta situação o governo <strong>de</strong>creta o<br />

racionamento do pão. Há um gran<strong>de</strong> e vivo <strong>de</strong>scontentamento nos meios operários e<br />

populares. Disso se apercebe claramente Alfredo Dinis, o dirigente comunista que<br />

controla a importante região <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, do que dá conta logo no início <strong>de</strong> Abril a<br />

291 Cf. A “comunicação” <strong>de</strong> Salazar ou... Salazar chega-se aos fortes, in Avante!, VI série, 45, Dezembro <strong>de</strong> 1943<br />

292 Constituiu-se o Conselho Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> Anti-Fascista, in Avante!, VI série, 46, 1ª Quinzena <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1944<br />

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