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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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astava enfatizar a expressão <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> que a Frente consagrava quando as tensões, as<br />

disputas <strong>de</strong> influência e sobretudo o braço <strong>de</strong> ferro em torno do <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento ou da<br />

contenção das acções violentas estavam em verda<strong>de</strong>ira efervescência.<br />

O afastamento <strong>de</strong> Delgado e a crítica aos seus métodos individualistas,<br />

impulsivos, megalómanos e autoritários unia a generalida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>legados, mas sobre<br />

as questões <strong>de</strong> orientação política continuavam profundamente divididos.<br />

A Junta, o Executivo da Junta melhor dizendo, foi alargado para seis membros,<br />

três por representação partidária directa – Ramos <strong>de</strong> Almeida, pelo <strong>PCP</strong>; Rui<br />

Cabeçadas, pelo MAR e Tito <strong>de</strong> Morais, pela Resistência Republicana e Socialista – e<br />

outros tantos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, Piteira Santos, Manuel Sertório e o Major Ervedosa.<br />

Quando se tratou <strong>de</strong> distribuir os pelouros, Sertório ficou com o Departamento<br />

Diplomático, Cabeçadas com as relações com o interior, Tito <strong>de</strong> Morais com a<br />

Emigração, Piteira Santos com a Solidarieda<strong>de</strong> Internacional, Ervedosa com o<br />

Departamento Militar e Pedro Ramos <strong>de</strong> Almeida com a Propaganda 1322 .<br />

Houve quem em plena Conferência discordasse em parte <strong>de</strong>sta distribuição.<br />

António Brotas, por exemplo, entendia que Ramos <strong>de</strong> Almeida e Piteira Santos<br />

<strong>de</strong>veriam trocar entre si esses pelouros, o que levou a um áspero comentário <strong>de</strong> Cunhal,<br />

perguntando-lhe “se não tinha confiança no <strong>PCP</strong>” 1323 . Era <strong>de</strong> uma questão <strong>de</strong> equilíbrio<br />

que se tratava, pois isso significava controlar os meios <strong>de</strong> difusão rádio para Portugal –<br />

Rádio Moscovo, Rádio Portugal Livre e agora também a Rádio Voz da Liberda<strong>de</strong>.<br />

Tratava-se efectivamente <strong>de</strong> um instrumento fundamental <strong>de</strong> controlo político e<br />

uma alavanca <strong>de</strong>cisiva do ponto <strong>de</strong> vista das próprias relações pela hegemonia no seio<br />

da FPLN e Ramos <strong>de</strong> Almeida ficaria mesmo com o pelouro da propaganda.<br />

A intenção <strong>de</strong> criar um Departamento Militar <strong>de</strong>stinado a preparar um<br />

movimento revolucionário não era nova e constituía uma espécie <strong>de</strong> acordo inevitável<br />

entre as diferentes organizações políticas que integravam a Frente Patriótica, já que<br />

todos reconheciam que o <strong>de</strong>rrube do regime se teria <strong>de</strong> fazer por essa via, dividindo-os<br />

no entanto o timing e especialmente as condições para o efeito.<br />

No entanto, passadas duas semanas, Delgado já em Paris cindia formalmente da<br />

Frente, completamente isolado, engendrando uma Frente Portuguesa, em vez <strong>de</strong><br />

Patriótica, <strong>de</strong> Libertação Nacional, que teria realizado uma conferência na raia da<br />

fronteira espanhola. Em Argel passavam assim a existir duas Frentes, em instalações<br />

1322 IAN/TT, PIDE-DGS, Processo 1353 CI(2), Pasta 1, Rádio Portugal Livre. Emissão <strong>de</strong> 28.10.64, Constituição do Conselho<br />

Executivo da Junta Revolucionária <strong>de</strong> Libertação Nacional, [415]<br />

1323 António Brotas, Três informadores…, p. 28<br />

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