19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sítio são todos contra o governo, mas por ora muito ver<strong>de</strong>s. Talvez seja eu que não sei<br />

trabalhar, mas estou aqui há mais <strong>de</strong> sessenta dias e ainda não fiz um único<br />

recrutamento” 1709 .<br />

Apesar da <strong>de</strong>cisão tomada pela Internacional Comunista , no seu V Congresso,<br />

em 1924, <strong>de</strong> que a organização comunista <strong>de</strong>via assentar em células <strong>de</strong> fábrica, persistiu<br />

duradouramente, e <strong>de</strong> forma assumida, a organização <strong>de</strong> base geográfica, porque “dado<br />

o Carácter fragmentário da nossa indústria, um tal processo é, por enquanto,<br />

inaplicável em Portugal” 1710 .<br />

Porém com a “reorganização”, um dos elementos diferenciadores em relação ao<br />

velho partido radicava justamente no carácter <strong>de</strong>stas organizações <strong>de</strong> base, que tendo<br />

sido até aos anos 30 sobretudo <strong>de</strong> base geográfica, assente em células <strong>de</strong> rua, preten<strong>de</strong>u-<br />

se que passassem a ser, <strong>de</strong>pois, por local <strong>de</strong> trabalho.<br />

Os Comités Locais, que substituíam na prática os antigos Comités <strong>de</strong> Zona e que<br />

se manteriam no mo<strong>de</strong>lo orgânico do <strong>PCP</strong> até ao fim da ditadura podiam disseminar-se<br />

geograficamente, mas as células que os compunham eram sobretudo <strong>de</strong> fábrica ou <strong>de</strong><br />

oficina. Os sectores intelectuais e estudantis, os organismos e fracções <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, que<br />

controlavam o movimento legal, constituíam excepções nesta estrutura.<br />

Em meio rural, como no Alentejo, on<strong>de</strong> o trabalho era contratado à jorna ou ao<br />

serviço, o sistema <strong>de</strong> Comités Locais permitia a ligação aos assalariados rurais<br />

orientando-os para os processos reivindicativos nos diferentes momentos e fases dos<br />

ciclos produtivos.<br />

Ajustados nas praças <strong>de</strong> jorna, a esmagadora maioria dos assalariados não<br />

tinham qualquer tipo <strong>de</strong> vínculo contratual permanente com os agrários, trabalhando por<br />

altura das ceifas do trigo por exemplo, para vários patrões. Não havia aqui células <strong>de</strong><br />

herda<strong>de</strong>, mas organismos, contactos individuais com base nas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong><br />

residiam.<br />

Deste modo, o recrutamento fazia-se entre camaradas <strong>de</strong> trabalho ou entre<br />

vizinhos e conhecidos, quase que naturalmente nos locais da sociabilida<strong>de</strong> popular,<br />

fosse a taberna, a praça <strong>de</strong> jorna, o clube <strong>de</strong>sportivo ou o largo da vila ou da al<strong>de</strong>ia.<br />

Em 1953, em Aljustrel, por exemplo, um militante refere que “Entrou para as<br />

«Minas <strong>de</strong> Aljustrel», ficando a trabalhar nos Algares, em Setembro do ano <strong>de</strong> 1952.<br />

Que, após a sua entrada para ali, começou a ser abordado por um operário da mesma<br />

1709 Manuel Tiago, Até amanhã, camaradas, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, (2ª edição), 1975, p. 20<br />

1710 O Comunista, 28.2.1925, cit. por Francisco Canais Rocha, Convergência <strong>de</strong> socialistas e comunistas na I República, in<br />

Vértice, 56, Setembro-Outubro <strong>de</strong> 2003, p. 8<br />

720

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!