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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Caraça, com aquele homem da Maçonaria, o Dias Amado e com vários outros e eu,<br />

portanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança que estava habituado a esse ambiente” 1722 .<br />

Todavia nem sempre era assim, evi<strong>de</strong>ntemente. Em muitos casos a <strong>de</strong>scolagem,<br />

em particular <strong>de</strong> jovens, operava-se também a partir <strong>de</strong> famílias e <strong>de</strong> ambientes tanto<br />

marcados pela indiferença política como também pela afeição e apoio ao próprio<br />

regime, o que remete para a importância dos contextos culturais e sociais mais gerais,<br />

quer os tornavam sensíveis às injustiças, à opressão ou às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, como ao papel<br />

prestigiado que a União Soviética continuava a irradiar, não obstante a Guerra Fria e<br />

toda a propaganda exalada em seu redor, empurrando-os por essa via para a a<strong>de</strong>são ao<br />

comunismo, tantas vezes em ruptura com a própria família.<br />

Em ambiente rural, marcadamente conservador também se verificava essa<br />

tendência. Jorge Araújo, na autobiografia elaborada em 1962 para passar a funcionário<br />

<strong>de</strong>screve o ambiente que o conduz ao <strong>PCP</strong>:<br />

“(…) vivi até aos 12 anos numa al<strong>de</strong>ia do interior [Antas <strong>de</strong> Santiago,<br />

Famalicão], on<strong>de</strong> os meus pais tinham um pequeno estabelecimento e algumas terras,<br />

o que nos dava um nível <strong>de</strong> vida superior à gran<strong>de</strong> maioria das pessoas <strong>de</strong>sta região,<br />

que vivem na mais atroz miséria. Os meus pais não tinham nenhum tipo <strong>de</strong> formação<br />

política e só falavam em tal durante os períodos eleitorais. O meu pai ia votar pela<br />

oposição porque tinha em gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração o médico da Terra conhecido<br />

oposicionista, e gostava <strong>de</strong> lhe ser agradável. A minha mãe, sem formação política,<br />

solidarizava-se com o sofrimento do povo, embora sem lhe conhecer as causas. Era<br />

bastante estimada pela gente da terra, pelo espírito <strong>de</strong>sinteressado com que ajudava as<br />

pessoas, e pelo seu tipo <strong>de</strong> vida mo<strong>de</strong>sto e irrepreensível. Os seus exemplos <strong>de</strong> amor e<br />

compreensão pelo próximo, a sua honestida<strong>de</strong> e modéstia, tiveram gran<strong>de</strong> influência na<br />

minha formação. Com 11 anos <strong>de</strong>ixei a casa <strong>de</strong> meus pais e vim estudar absorvi certos<br />

aspectos negativos, levando por vezes uma vida <strong>de</strong>sregrada, o que fez <strong>de</strong> mim um<br />

estudante medíocre.<br />

Em 1956 durante uma discussão em que eu negava a existência <strong>de</strong> Deus e<br />

procurava uma justificação para a maneira como a igreja manobrava as pessoas, foi-<br />

me dado a conhecer uma jovem que <strong>de</strong>bateu esses problemas comigo, esclarecendo-me<br />

não só sobre o aspecto religioso como também foi ela que me abriu as perspectivas<br />

1722 Entrevista a Carlos Aboim Inglês, em 19 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1994<br />

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