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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Partido saber como se portou na Polícia.<br />

“Virgílio” 30 anos. Poucas perspectivas. Bastante inexperiente. Anda a apren<strong>de</strong>r francês. Diz que<br />

os operários são uns ignorantes e que a juventu<strong>de</strong> está perdida<br />

“Ramalho” Esteve ligado na terra. Aburguesado. Vaidoso. Não tem feito trabalho <strong>de</strong> organização.<br />

Não é sério. Diz que está disposto, mas <strong>de</strong>pois não faz nada. Não tem recolhido fundos.<br />

“Joel” Tem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Já fez agitação.<br />

“João” 32 anos. Tem pouca experiência. Sério. Disposto para a luta. Não é totalmente <strong>de</strong>dicado.<br />

“Abreu” 40 anos. Disposto a lutar. Bastante capaz. Muito <strong>de</strong>dicado. Não é queimado, recrutou<br />

muita gente. Teórico e prático. Po<strong>de</strong>-se ter confiança nele. É rijo. Tem pouca<br />

experiência.<br />

“Tavares” Sério. Disposto.<br />

“Afonso” Disposto. Já fez agitação. Sério.<br />

“Melo” Cuidadoso. Sério. Capaz <strong>de</strong> evoluir politicamente.<br />

“Fortes” 42 anos. Disposto a trabalhar. Não recebe fundos. Limpo. Sério. Já esteve ligado ao<br />

Partido na terra. Não paga quotização.<br />

“César” Mo<strong>de</strong>sto. Dedicado. Consciência <strong>de</strong> classe. Ainda não <strong>de</strong>u provas.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma organização mais envelhecida, on<strong>de</strong> surgem em maior número<br />

os militantes com mais <strong>de</strong> 40 anos, com passagens pela prisão, mais letrados,<br />

evi<strong>de</strong>nciando um nível cultural superior e em que a organização se alarga também com<br />

militantes que trazem ligações anteriores à província.<br />

O capital “saber ler” revela-se aqui com uma importância acrescida,<br />

<strong>de</strong>terminando nalguns casos observações relacionadas com as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

evolução política.<br />

Ainda que os atributos <strong>de</strong> natureza moral se mantenham – ser sério,<br />

principalmente –, bem como as preocupações com o facto <strong>de</strong> ser ou não queimado,<br />

confere-se uma particular atenção à disposição para trabalhar, consi<strong>de</strong>rando-se as<br />

tarefas <strong>de</strong> agitação <strong>de</strong> modo valorativo, bem como a recolha <strong>de</strong> fundos e o recrutamento<br />

<strong>de</strong> novos elementos.<br />

Regista-se a inexperiência principalmente nos casos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são recente ao<br />

partido, assim como se assinalam traços negativos quer <strong>de</strong> natureza meramente pessoal<br />

– a vaida<strong>de</strong> principalmente – mas também <strong>de</strong>svios políticos em potência, relacionáveis<br />

com a predisposição para acções violentas, por exemplo, questão muito sensível ao<br />

tempo.<br />

Trata-se, <strong>de</strong> qualquer modo, <strong>de</strong> uma organização com características<br />

substancialmente diferentes das que ocorrem numa zona rural, como era<br />

<strong>de</strong>signadamente o Couço. Nesta altura, na zona oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, recenseavam-se 62<br />

militantes e 167 simpatizantes 1737 . Havia organização do partido em velhas empresas<br />

com fortes tradições <strong>de</strong> luta, como a metalúrgica Dargent, ou as fábricas da zona das<br />

Fontainhas, em Alcântara, a Refinaria Colonial; oficinas como a Viúva Ferrão, já a<br />

1737 I<strong>de</strong>m, [182]<br />

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