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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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No entanto, a própria estratégia <strong>de</strong> esvaziamento da base <strong>de</strong> apoio a Fogaça, do<br />

seu isolamento e <strong>de</strong> mobilização dos quadros para a rectificação dos erros, que Álvaro<br />

Cunhal empreen<strong>de</strong>, acabavam objectivamente por ajudar à diluição das<br />

responsabilida<strong>de</strong>s colectivas e <strong>de</strong> outras responsabilida<strong>de</strong>s individuais.<br />

Guilherme da Costa Carvalho, particularmente acerado e frontal nas críticas que<br />

dirige a Fogaça, é olhado com pouca simpatia por muitos dos restantes membros do<br />

Comité Central e não sendo escolhido para participar nalgumas <strong>de</strong>ssas reuniões, são<br />

poucos os que dizem estar a ser errado não o ouvir.<br />

No documento que redige logo em Janeiro <strong>de</strong> 1960 manifesta-se melindrado<br />

com o comportamento da direcção do partido em relação a si. Por mais duma ocasião,<br />

seja no Avante! seja principalmente no relatório da Comissão Política apresentado no<br />

ano anterior à Conferência dos 17 Partidos Comunistas da Europa capitalista, o seu<br />

nome é omitido da lista <strong>de</strong> dirigentes do <strong>PCP</strong> sob prisão, o que o leva a perguntar<br />

“porque foi o único membro efectivo do n/ CC q. a CP excluiu ?” para acrescentar<br />

“Será uma indignida<strong>de</strong> ter-se sempre preocupado falar claro e servir somente o P.<br />

mesmo nas situações mais difíceis e mais dolorosas ?” 987 .<br />

Já antes, em Março-Abril <strong>de</strong> 1957 e na apreciação da situação política no início<br />

<strong>de</strong> 1959, criticara <strong>de</strong> forma veemente e intempestiva o <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita. Mas Carvalho<br />

tinha contra si um carácter temperamental e irascível que frequentemente gerava<br />

animosida<strong>de</strong>s. É, já assinalámos, olhado <strong>de</strong> soslaio pelos seus companheiros, acusado <strong>de</strong><br />

presunção. Como ele próprio refere nos órgãos executivos do Comité Central<br />

consi<strong>de</strong>rava-se que as suas opiniões “’eram verda<strong>de</strong>iras pedradas sobre a mesa <strong>de</strong><br />

trabalho do Secretariado’ e q. (…) não passava <strong>de</strong> um coca-bichinhos como chegou a<br />

ser dito em Rs. do CC, até ao seu ‘falar cinzento’…” 988 .<br />

Provavelmente por isso, Cunhal apesar <strong>de</strong> ver nele um aliado objectivo em<br />

matéria política, não tenha feito <strong>de</strong>le a ponta <strong>de</strong> lança que po<strong>de</strong>ria ter sido em todo este<br />

processo.<br />

Teria antes preferido atrair a maioria do Comité Central às suas posições, pelo<br />

reconhecimento <strong>de</strong> como estariam errados, em vez <strong>de</strong> lidar com brusquidão ou<br />

severida<strong>de</strong> excessiva, pelo que nem um único dos principais dirigentes anteriores à fuga<br />

tenha sido afastado ou tenha baixado <strong>de</strong> escalão pelos motivos que estavam em <strong>de</strong>bate.<br />

987 Manuel, Contribuição <strong>de</strong> um…, p. 105<br />

988 I<strong>de</strong>m, p. 106<br />

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