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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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As vicissitu<strong>de</strong>s e a instabilida<strong>de</strong> organizativa do MND foi <strong>de</strong>s<strong>de</strong> início sempre<br />

muito acentuada. Logo em Dezembro <strong>de</strong> 1949, toda a Comissão Central do MND é<br />

presa. A libertação <strong>de</strong> Ruy Luís Gomes e Virgínia Moura faz-se em função <strong>de</strong> pesada<br />

fiança e sob a pressão espectro <strong>de</strong> um julgamento que só viria a ocorrer quatro meses<br />

<strong>de</strong>pois, acabando absolvidos a coberto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> amnistia recente. Ao<br />

regressarem ao Porto, acolhidos na estação com uma pequena manifestação, aqueles<br />

dois dirigentes e Lobão Vital serão agredidos pela polícia.<br />

Em Junho <strong>de</strong> 1950, os mesmos dois dirigentes voltam a ser presos, seguindo-se<br />

os restantes, que corajosamente <strong>de</strong>safiam o regime apresentando-se pessoalmente na<br />

Presidência do Conselho <strong>de</strong> Ministros para entregar em mão uma exposição <strong>de</strong> protesto.<br />

A direcção do Movimento Nacional Democrático passa a funcionar com base em<br />

elementos das Comissões Distritais, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> insistir na <strong>de</strong>núncia da repressão.<br />

Em Janeiro <strong>de</strong> 1951, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminado novo julgamento da Comissão Central<br />

realizou-se em <strong>Lisboa</strong> um jantar em sua homenagem. Aproveitou-se a ocasião para<br />

lançar uma campanha sobre a revisão constitucional, cuja discussão o regime havia<br />

aberto com a apresentação <strong>de</strong> um projecto <strong>de</strong> alterações. Nos meses seguintes vão<br />

insistir na necessida<strong>de</strong> do haver um <strong>de</strong>bate público em torno <strong>de</strong>ssa revisão, enviando<br />

telegramas e representações à Presidência da República e à Assembleia Nacional.<br />

Porém, com a morte do Presi<strong>de</strong>nte da República, o Marechal Carmona, a<br />

organização ver-se-ia, pela primeira vez <strong>de</strong>pois da campanha <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos<br />

confrontada com o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma intervenção política que extravasava largamente os<br />

protestos formais ou as sessões públicas comemorativistas.<br />

Logo nesse mês <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1951, a Comissão Central, em comunicado, já<br />

subscrito por praticamente todos os seus membros, procura relacionar a questão da<br />

revisão constitucional com as eleições presi<strong>de</strong>nciais. Para o MND a função da<br />

Constituição não era o fundamento jurídico-formal da <strong>de</strong>mocracia, mas um instrumento<br />

ao serviço <strong>de</strong> um regime, que tanto podia ser <strong>de</strong>mocrático como anti<strong>de</strong>mocrático. A<br />

constitucionalização do Estado Novo era explicada como a garantia jurídica dos<br />

privilégios da maioria dominante contra o povo e a sua revisão como um mero<br />

expediente “para, através <strong>de</strong> uma concessão <strong>de</strong>magógica <strong>de</strong> direitos, impor ao Povo<br />

redobradas garantias <strong>de</strong> sobrevivência da minoria dominante” 493 .<br />

Segundo este ponto <strong>de</strong> vista, a morte <strong>de</strong> Carmona criara dificulda<strong>de</strong>s acrescidas<br />

ao regime, pois <strong>de</strong>ra-se antes <strong>de</strong> concluído o processo <strong>de</strong> revisão, no qual <strong>de</strong>sempenhava<br />

493 A Comissão Central, O Movimento Nacional Democrático perante as eleições presi<strong>de</strong>nciais, 22 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1951, imp., 1 p.<br />

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