19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

para que, em caso <strong>de</strong> um eventual sucesso, não fosse marginalizado, numa espécie <strong>de</strong><br />

dois pés fora e um pé <strong>de</strong>ntro.<br />

Os programas mínimos que frequentemente redigiu e propôs <strong>de</strong>stinavam-se a<br />

enquadrar o <strong>de</strong>rrube do regime e os tempos que imediatamente se lhe seguissem, na<br />

base <strong>de</strong> que dificilmente teria capacida<strong>de</strong> e condições para conduzir em absoluto esse<br />

<strong>de</strong>rrube, argumentando frequentemente que o restabelecimento das liberda<strong>de</strong>s, o fim<br />

dos aparelhos repressivos e a realização <strong>de</strong> eleições livres permitiria criar um quadro<br />

parlamentar a partir do qual o processo revolucionário se <strong>de</strong>senvolveria já numa outra<br />

base.<br />

Este problema articula-se com as novas características que a oposição adquiriu,<br />

em particular após o período 1958-62 com o processo <strong>de</strong> reagrupamento da corrente<br />

socialista empreendido por Mário Soares junto dos sectores representados pelo<br />

Directório Democrato-Social, mas também com o processo <strong>de</strong> agregação que permitia<br />

configurar uma esquerda socialista, ainda muito inexpressiva no interior do país, mas<br />

que o Movimento <strong>de</strong> Acção Revolucionária <strong>de</strong> algum modo simbolicamente<br />

representava, sem a esgotar.<br />

As renitências do grupo <strong>de</strong> Soares à FPLN, mais apostado numa estratégia <strong>de</strong><br />

enrobustecimento interno e em meios <strong>de</strong> acção semi-legais e tradicionais e a<br />

convergência aí dos outros sectores, impacientes com o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> acções<br />

armadas, levantava ao <strong>PCP</strong> o problema <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> cobrir nenhum <strong>de</strong>stes<br />

flancos, sendo que retardou como pô<strong>de</strong> e enquanto pô<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> acções<br />

armadas, preferindo objectivamente a estas o curso das acções <strong>de</strong>stinadas a “forçar a<br />

legalida<strong>de</strong>”.<br />

Por outras palavras, apesar das mutações que as oposições so<strong>fria</strong>m, a estratégia<br />

<strong>de</strong> “unida<strong>de</strong> antifascista” não se tendo alterado significativamente, a<strong>de</strong>nsou antes a<br />

preocupação e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conter e enquadrar os sectores mais à esquerda que<br />

pu<strong>de</strong>ssem romper com esta lógica política, o que só suce<strong>de</strong>ria na segunda meta<strong>de</strong> dos<br />

anos 60 com a afirmação da ASP, da oposição católica e da esquerda radical, para o que<br />

se afirmaria sobretudo como um partido antifascista, capaz <strong>de</strong> polarizar tanto quanto<br />

pu<strong>de</strong>sse a combativida<strong>de</strong> contra o regime. O “esquerdismo” tornar-se-ia, neste contexto,<br />

o principal <strong>de</strong>svio a combater quer no movimento operário quer no movimento<br />

antifascista.<br />

O antifascismo do <strong>PCP</strong>, erigindo o <strong>de</strong>rrube do regime como único horizonte<br />

visível, conferir-lhe-ia assim uma hibri<strong>de</strong>z i<strong>de</strong>ológica, por on<strong>de</strong> germinariam “<strong>de</strong>svios<br />

798

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!