19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

gran<strong>de</strong> força militar premeditadamente poupada na luta contra a Alemanha<br />

– surgem como a indiscutível cabeça do imperialismo e da reacção” 410<br />

A ilegalização do PC do Brasil, a expulsão do PC Francês do governo ou a crise<br />

governativa italiana, que levou igualmente ao afastamento do PCI, constituíam sinais<br />

irrefutáveis <strong>de</strong> um nova e po<strong>de</strong>rosa vaga anticomunista que se levantava, sustentada<br />

pelo bloco anglo-americano e apoiada pelo Vaticano.<br />

Segundo o Partido Comunista Português, neste contexto internacional Salazar<br />

acalentaria a esperança <strong>de</strong> ver restabelecidos regimes fascistas à sombra das novas<br />

tensões e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mobilização, inclusivamente militar, contra a URSS e<br />

o bloco das <strong>de</strong>mocracias populares em edificação, no fundo uma terceira <strong>guerra</strong><br />

mundial. E, nesta visão apocalíptica, o seu objectivo seria preparar-se para a <strong>guerra</strong>,<br />

liberto <strong>de</strong> ambiguida<strong>de</strong>s neutrais.<br />

O investimento em <strong>de</strong>spesas militares agrava a situação económica do país, em<br />

vez <strong>de</strong> aproveitar as condições <strong>de</strong> paz para levar a cabo as gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> fomento, a<br />

electrificação, a irrigação e o povoamento do país 411 , isto é, a colonização interna,<br />

afastando-se assim pouco dos gran<strong>de</strong>s projectos que os sectores reformistas do regime<br />

propunham. O que distinguia o discurso comunista do discurso <strong>de</strong>ssas correntes era a<br />

indispensabilida<strong>de</strong>, para a realização <strong>de</strong>sse programa, <strong>de</strong> um regime <strong>de</strong>mocrático e <strong>de</strong><br />

uma orientação anti-corporativa e anti-monopolista.<br />

Mas necessitava, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong> lançar uma espesso manto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrédito<br />

sobre essas propostas “<strong>de</strong>senvolvimentistas” do regime. Assim, a reforma agrária<br />

preconizada pelos “neofisiocratas” não passava <strong>de</strong> uma retinta <strong>de</strong>magogia que não<br />

beliscava os interesses dos gran<strong>de</strong>s proprietários agrícolas nem resolvia os efectivos<br />

problemas dos assalariados e dos camponeses pobres e médios.<br />

Cunhal insistia na i<strong>de</strong>ia que o país era <strong>de</strong>ficitário do ponto <strong>de</strong> vista alimentar,<br />

porque uma parte significativa da produção nacional saía do país, antes para a<br />

Alemanha hitleriana e agora para servir os interesses anglo-americanos.<br />

Do mesmo modo, a organização corporativa não obstava e antes favorecia as<br />

irregularida<strong>de</strong>s da distribuição dos géneros e o mercado negro. Denunciava o carácter<br />

<strong>de</strong>magógico das medidas <strong>de</strong> Daniel Barbosa, cujo objectivo era apenas o <strong>de</strong> conter e<br />

esvaziar as movimentações sociais, isto é, não passavam <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong>sesperadas a que<br />

o governo tinha sido obrigado por pressão das greves dos estaleiros navais.<br />

410 Duarte [Álvaro Cunhal], Unida<strong>de</strong>, garantia da vitória, Informe ao Comité Central – em Junho, 1947, cicl., p. 4<br />

411 Cf. I<strong>de</strong>m, p. 10<br />

160

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!