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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Nas relações <strong>de</strong> parentesco influíam os ambientes familiares, políticos, mas<br />

também culturais, reflectindo genealogias e tradições que se reportavam às gerações<br />

anteriores.<br />

Em meio operário, mesmo com todo o corte operado pelo processo <strong>de</strong><br />

institucionalização do Estado Novo, que <strong>de</strong>cepou primeiro e liquidou, <strong>de</strong>pois, a velha<br />

elite operária hegemonizada por sindicalistas revolucionários e anarquistas, ainda<br />

permanecia nalguns sectores e localida<strong>de</strong>s uma influência anarquista, mas muito difusa,<br />

já completamente <strong>de</strong>sagregada e que tendia a apoiar a aproximação dos seus filhos ao<br />

Partido Comunista, cuja capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência e <strong>de</strong> luta admiravam e respeitavam,<br />

embora manifestassem distanciamento crítico fundado em convicções pessoais<br />

profundamente enraizados.<br />

Em Até amanhã, camaradas, é essa a i<strong>de</strong>ia presente no pai <strong>de</strong> Maria, a jovem<br />

militante prestes a ser funcionalizada:<br />

“Maria vivia com um irmão casado, com uma irmã mais velha e o pai. A mãe<br />

morrera há muito. O pai era um velho anarquista. Mas, nos últimos anos em que<br />

trabalhara, dizia a cada passo aos amigos:<br />

- Sempre fui anarquista e anarquista morrerei. Não concordo com o sistema <strong>de</strong><br />

governo que os comunistas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m nem com muitas coisas da sua teoria e da sua<br />

organização. Mas são eles que ganham o coração da juventu<strong>de</strong> e são afinal os únicos<br />

que fazem alguma coisa. Estar com eles é estar contra os patrões…” 1719 .<br />

Em Silves, por exemplo, tradicional centro corticeiro duradouramente<br />

hegemonizado pelos sindicalistas revolucionários, Américo da Silva Pessanha, um<br />

quadro activo do <strong>PCP</strong> no início dos anos 50 era filho <strong>de</strong> Manuel Pessanha, <strong>de</strong>stacado<br />

lí<strong>de</strong>r sindicalista corticeiro vinte anos antes 1720 e nessa mesma localida<strong>de</strong>, José<br />

Vitoriano, futuro dirigente do <strong>PCP</strong>, casa em 1947 com Diamantina Jesus Vicente,<br />

igualmente filha <strong>de</strong> um conhecido anarco-sindicalista corticeiro, acompanhando o seu<br />

companheiro na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> e no exílio.<br />

Mas era também relativamente corrente que uma tradição familiar militante se<br />

transmitisse <strong>de</strong> pais para filhos. Mais raramente isso se passava entre a burguesia, ainda<br />

assim, é esse o caminho que leva Rui Perdigão, oriundo <strong>de</strong> uma próspera família <strong>de</strong><br />

industriais do porto, ao partido:<br />

1719 Manuel Tiago, Até amanhã, camaradas…., p. 59<br />

1720 Cf. Maria João Raminhos Duarte, Oposição à Ditadura Militar e ao “Estado Novo” no Algarve (1926-1958). O caso do<br />

concelho <strong>de</strong> Silves. Dissertação <strong>de</strong> Doutoramento em História Contemporânea, apresentada à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras da Unibversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, 2007, cicl., p. 469<br />

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