19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

passar a assumir <strong>de</strong>stacadas funções como dirigentes <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> libertação<br />

nacional <strong>de</strong> Angola e da Guiné. Neto ia inclusivamente acompanhado da sua mulher e<br />

dos dois filhos ainda muito pequenos.<br />

Para o feito foi necessário comprar um pequeno iate <strong>de</strong> recreio a motor que<br />

partiu da doca <strong>de</strong> Pedrouços, em <strong>Lisboa</strong>, bor<strong>de</strong>jou a costa portuguesa, prosseguindo até<br />

à baía <strong>de</strong> Cádis, atravessando em seguida o estreito em mar turbulento, <strong>de</strong> modo a que<br />

os passageiros <strong>de</strong>sembarcassem na baía <strong>de</strong> Tarifa. José Nogueira, oficial <strong>de</strong><br />

administração naval e o dirigente do <strong>PCP</strong> Jaime Serra, que conduziram a operação,<br />

regressariam <strong>de</strong> imediato, tendo percorrido 600 milhas em quatro dias 1679 .<br />

Porém, a montante do aparelho <strong>de</strong> fronteiras era necessária uma estrutura <strong>de</strong><br />

apoio à falsificação <strong>de</strong> documentos que, evi<strong>de</strong>ntemente, servisse também, ou sobretudo,<br />

todo o aparelho clan<strong>de</strong>stino no interior. Era necessário falsificar passaportes, bilhetes <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, cartas <strong>de</strong> condução, <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>, toda a sorte <strong>de</strong> documentos necessários a<br />

uma i<strong>de</strong>ntificação falsa que pu<strong>de</strong>sse iludir a vigilância policial.<br />

Quando, no início <strong>de</strong> 1955, Pires Jorge é incumbido <strong>de</strong> convidar José Dias<br />

Coelho e Margarida Tengarrinha para passarem à clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, o partido tem<br />

precisamente em vista a criação <strong>de</strong> uma oficina <strong>de</strong> falsificações, escolhendo para o<br />

efeito dois quadros recentemente saídos da Escola Superior <strong>de</strong> Belas Artes <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>,<br />

que se haviam <strong>de</strong>stacado na activida<strong>de</strong> do MUD Juvenil.<br />

Um escultor e uma pintora, que se vinham interessando pelas técnicas <strong>de</strong><br />

gravura, tinham o perfil que mais se a<strong>de</strong>quava ao efeito pretendido, retirando <strong>de</strong>sse<br />

interesse e conhecimento também experiência para que, fosse em metal ou em linóleo,<br />

se conseguissem impressões muito perfeitas dos carimbos ou dos selos brancos quer<br />

utilizados pelo regime quer pelas autorida<strong>de</strong>s espanholas e <strong>de</strong> alguns países do norte <strong>de</strong><br />

África.<br />

Para além disso, a oficina dispunha <strong>de</strong> equipamento fotográfico, meio essencial a<br />

combinar com os restantes elementos indispensáveis à falsificação dos documentos <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação 1680 .<br />

Durante praticamente seis anos, Dias Coelho e Margarida Tengarrinha<br />

organizaram meticulosamente esta oficina, com “um armário que fazia as vezes <strong>de</strong><br />

Arquivo <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação, Governo Civil, Direcção-Geral <strong>de</strong> Trânsito e Posto <strong>de</strong><br />

Fronteira, com gavetas arrumadas por assuntos e os vários carimbos e selos em branco<br />

1679 Cf. Jaime Serra, Eles têm o direito <strong>de</strong> saber… o que custou a liberda<strong>de</strong>, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 2004 (2ª edição), pp 173-<br />

184<br />

1680 Cf. Margarida Tengarrinha, Quadros da memória…, pp 41-47<br />

701

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!