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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Entretanto, não reúnem com as camaradas e têm sempre <strong>de</strong>sculpas para isso. Não as<br />

ajudam politicamente…” 1575 , <strong>de</strong>sabafava uma funcionária por esta altura.<br />

Ainda que o organismo da casa clan<strong>de</strong>stina fosse constituído pelo casal <strong>de</strong><br />

funcionários que a habitava, nas reuniões eram realizadas apenas participava o<br />

controleiro e o funcionário, invocando-se razões conspirativas para que a companheira<br />

não estivesse presente, porque a reunião abordava também aspectos <strong>de</strong> organização<br />

relacionados com os sectores e organismos <strong>de</strong> escalões inferiores que o funcionário por<br />

sua vez controlava, <strong>de</strong> que ela não tinha nada que saber.<br />

Nos intervalos das reuniões, fosse para tomar as refeições ou ao fim do dia, em<br />

momentos informais e mais distendidos, é que muitas vezes se criava o ambiente<br />

relacional que propiciavam aprendizagens informais, que eram fundamentais no próprio<br />

processo <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> crescimento dos quadros enquanto tal.<br />

Esse clima <strong>de</strong>pendia, evi<strong>de</strong>ntemente, do próprio controleiro, das suas<br />

características pessoais, pois frequentemente encobriam a sua própria insegurança ou<br />

construíam mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que os tornava sisudos, <strong>de</strong> poucas falas, fechados e<br />

pouco dados a um relacionamento mais humanizado.<br />

Todavia, nem sempre era assim. Segundo Martins Rodrigues, “o Pires Jorge era<br />

excelente, era um fala-barato, um entusiasta, tinha muita simpatia. O contacto com ele<br />

era, <strong>de</strong> facto, fora <strong>de</strong> série. E então aí também servia para transmitir esta cultura, esta<br />

experiência, porque o controleiro começava a contar disto, daquilo, da história do<br />

Partido, o que tinha acontecido e <strong>de</strong> facto isso é verda<strong>de</strong>, mas não com todos nem em<br />

todas as situações…” 1576 .<br />

Deste modo, era frequente que o organismo constituído pelo casal que habitava a<br />

instalação tivesse um funcionamento completamente irregular, inexistente em muitos<br />

casos. Daí que no quadro da correcção do “<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita” tivessem sido tomadas<br />

medidas no sentido <strong>de</strong> contrariar essa situação amplamente reconhecida.<br />

Para mais, o boletim A Voz das Camaradas das Casas do Partido tinha<br />

interrompido a sua publicação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> finais <strong>de</strong> 1958. Este, juntamente com o 3 Páginas,<br />

que o antece<strong>de</strong>ra, haviam <strong>de</strong>sempenhado um papel agregador importante e, <strong>de</strong> algum<br />

modo, um papel formativo junto das funcionárias, contribuindo para quebrar um pouco<br />

do isolamento em que se encontravam.<br />

1575 Maria, Coisas que eu sinto, i<strong>de</strong>m, 8, Janeiro <strong>de</strong> 1957<br />

1576 Entrevista a Francisco Martins Rodrigues, <strong>Lisboa</strong>, 7 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1997<br />

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