19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

portuguesa, o <strong>PCP</strong> entendia-a no fundamental como uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>monização<br />

levada a cabo pelo salazarismo, que havia anulado “tudo o que na legislação anterior<br />

podia significar <strong>de</strong> direitos e benefícios das populações nativas e agravou tudo o que<br />

existia <strong>de</strong> opressão colonialista” 1133 .<br />

Esta interpretação sancionava a i<strong>de</strong>ia, ao fim e ao cabo comum aos restantes<br />

sectores da oposição, que a obra colonial da República tivesse uma faceta quase anti-<br />

colonial, se tivesse sido caracterizada pelo <strong>de</strong>senvolvimentismo, pelo respeito pelas<br />

populações locais, versão veiculada pela oposição republicana liberal, que o <strong>PCP</strong><br />

acabaria por herdar e interiorizar até muito tar<strong>de</strong>, com toda a sorte <strong>de</strong> contradições,<br />

impasses e efeitos perversos que originaria nas suas posições próprias numa altura em<br />

que a eclosão da <strong>guerra</strong> em Angola funcionava como catalisador da questão colonial e<br />

do processo <strong>de</strong> corrosão e <strong>de</strong>sagregação do regime.<br />

Quando, por esta altura, Dias Lourenço incumbe Francisco Martins Rodrigues,<br />

que não havia participado nessa reunião do CC, <strong>de</strong> redigir um manifesto<br />

especificamente sobre a questão colonial, este, completamente por sua iniciativa,<br />

incluíra um apelo ao levantamento popular contra a <strong>guerra</strong>, o que leva Cunhal a or<strong>de</strong>nar,<br />

precipitadamente que a sua distribuição fosse suspensa 1134 .<br />

Mas as orientações em torno da <strong>guerra</strong> não eram aceites <strong>de</strong> modo completamente<br />

passivo por todo o partido. Muitas <strong>de</strong>stas questões haviam sido objecto <strong>de</strong> discussão<br />

interna numa reunião <strong>de</strong> quadros no seguimento <strong>de</strong> outras travadas em organismos <strong>de</strong><br />

base. Consi<strong>de</strong>rava-se que este era o problema dominante na situação política portuguesa<br />

em relação ao qual a posição da direcção do partido era <strong>de</strong>masiadamente “cautelosa”,<br />

não lhe sendo conferida a <strong>de</strong>vida importância.<br />

A questão fundamental era a <strong>de</strong> que a <strong>guerra</strong> colonial <strong>de</strong>via ser encarada como<br />

parte da luta mais geral dos povos oprimidos do mundo inteiro contra o capitalismo,<br />

oportunida<strong>de</strong> excelente que <strong>de</strong>via ser agarrada pelo povo português como forma <strong>de</strong><br />

apoio aos angolanos.<br />

Visto o problema <strong>de</strong>sta forma, contrariamente à posição da direcção, tanto se<br />

consi<strong>de</strong>rava que não <strong>de</strong>via ser feita qualquer cedência em nome da unida<strong>de</strong> com os<br />

outros sectores oposicionistas, como se entendia que a <strong>de</strong>serção <strong>de</strong>via ser apoiada em<br />

qualquer circunstância, fosse como iniciativa individual ou colectiva, fosse antes da<br />

1133<br />

O Comité Central do Partido Comunista Português, Sobre Conferência dos 81 Partidos Comunista e Operários em<br />

Moscovo, Março <strong>de</strong> 1961, p. 5<br />

1134<br />

Cf. Ana Barradas, <strong>PCP</strong>: anticolonialismo <strong>de</strong> compromisso, in Política Operária, 9, Março-Abril <strong>de</strong> 1987, p. 55 e Entrevista<br />

a Francisco Martins Rodrigues, <strong>Lisboa</strong>, 7 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1997<br />

444

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!