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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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A jornada contra o terrorismo que o Secretariado inscrevera no seu comunicado<br />

<strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> Junho, ia-se tornando numa “gran<strong>de</strong> e pacífica jornada nacional <strong>de</strong> luta pela<br />

Democracia”, assente na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “pacificação da família portuguesa”, que passaria por<br />

quatro gran<strong>de</strong>s objectivos – um governo sem Salazar e Santos Costa, abolição da<br />

censura, libertação imediata <strong>de</strong> todos os presos políticos e realização <strong>de</strong> novas eleições<br />

para a Presidência da República.<br />

Para isso vai, como po<strong>de</strong>, especificando as formas e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

concretização <strong>de</strong>ssa jornada:<br />

“Des<strong>de</strong> as greves intermitentes, paralizações <strong>de</strong> 15 minutos, meia hora,<br />

uma hora, um dia ou mais, até à simples aprovação <strong>de</strong> moções <strong>de</strong> protesto<br />

contra as ilegalida<strong>de</strong>s cometidas pelo governo…<br />

As greves e paralizações <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verão ser acompanhadas <strong>de</strong><br />

explicação aos patrões <strong>de</strong> que não são contra eles, mas sim <strong>de</strong> protestos<br />

contra a falsificação das eleições, pela libertação dos presos, pela<br />

<strong>de</strong>missão <strong>de</strong> Salazar e Santos Costa, pela realização <strong>de</strong> novas eleições” 887<br />

Reerguia-se, com outra <strong>de</strong>signação, com roupagens retocadas, o <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita<br />

que prece<strong>de</strong>ra o V Congresso e que não fora aí vencido, por inconsequência,<br />

superficialida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sarticulação da crítica política que lhe foi dirigida . Era não só a<br />

i<strong>de</strong>ia da gran<strong>de</strong> frente nacional anti-salazarista, como a da pacificação e reconciliação<br />

da família portuguesa, cujos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sígnios seriam comuns a trabalhadores e patrões,<br />

<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> fora apenas um grupo muito restrito – a “camarilha salazarista” - que teria<br />

como expoentes Salazar, naturalmente, e Santos Costa.<br />

Começava-se a <strong>de</strong>senhar um cenário, cuja gestão pela direcção do partido se<br />

afigurava difícil. Por um lado, assistia-se a uma forte radicalização <strong>de</strong> sectores operários<br />

e <strong>de</strong> trabalhadores, a<strong>de</strong>nsava-se a predisposição para manejos golpistas por parte <strong>de</strong> um<br />

sector <strong>de</strong> jovens oficiais, que apesar <strong>de</strong> ainda incipiente, ia tecendo uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do<br />

Exército, reflectindo um <strong>de</strong>scontentamento larvar; mas a direcção do <strong>PCP</strong> propunha<br />

formas <strong>de</strong> protesto diversificadas, mas evitava pru<strong>de</strong>ntemente a greve geral, ao mesmo<br />

tempo que aconselhava à compreensão e persuasão dos patrões, que <strong>de</strong>veriam ser<br />

atraídos à acção comum, a ombrear com os trabalhadores.<br />

De qualquer modo, estava-se a <strong>de</strong>senhar um movimento grevista, iniciado a 12 e<br />

que pelo meio do mês registava novo ímpeto com a entrada em greve dos assalariados<br />

agrícolas principalmente da zona <strong>de</strong> Beja e da Margem Esquerda do Guadiana. Em<br />

887 A Comissão Política do Comité central do Partido Comunista Português, As eleições foram falseadas!, 18 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1958<br />

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