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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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do IV Congresso do Komintern terão agido, segundo Droz em segredo e com intuitos<br />

ferozmente <strong>de</strong>puradores 100 , o que se traduzia num clima <strong>de</strong> dissolução e <strong>de</strong> crise<br />

profunda.<br />

Quando Humbert Droz chega a Portugal a Internacional Comunista vive um<br />

momento <strong>de</strong> transição importante. Está praticamente encerrada a sua fase constitutiva e<br />

está prestes a iniciar-se o que ficou conhecido como processo <strong>de</strong> bolchevização, que<br />

será operado já sob a direcção <strong>de</strong> Estaline, ainda que Zinoviev permaneça como<br />

principal dirigente da Internacional.<br />

Isto significava, na prática, que, apesar <strong>de</strong> já terem sido aprovadas no 2º<br />

Congresso as 21 condições, que todos os partidos integrantes formalmente aceitavam,<br />

só então se podia dar por praticamente assegurada a subordinação dos diferentes<br />

partidos ao centro, eliminando-se as veleida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alguns que reclamando um certo grau<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, como os alemães ou os polacos, criticavam os métodos autoritários<br />

da direcção do Komintern, ou os franceses que se arrogavam no direito <strong>de</strong> discordar e<br />

não adoptar a política <strong>de</strong> frente única 101 .<br />

A situação que se verificava no partido português era, no entanto,<br />

incomparavelmente pior. A avaliação <strong>de</strong> Droz não <strong>de</strong>ixava gran<strong>de</strong> lugar a dúvidas,<br />

segundo o qual “ O partido ainda não tinha realizado o seu congresso constitutivo e<br />

não possuía nem estatuto orgânico nem programa teórico e táctico” 102 . Porém, o que<br />

para além disto, preocupava o “internacional” era o estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação orgânica em<br />

que o partido se encontrava, polarizado entre dois grupos, o <strong>de</strong> Caetano <strong>de</strong> Sousa/Pires<br />

Barreira e o <strong>de</strong> Carlos Rates, que se combatiam mutuamente, ao nível do insulto.<br />

Investido da autorida<strong>de</strong> que sua função relevava, ainda que afirmando não dispor<br />

<strong>de</strong> nenhuma orientação concreta por parte da IC e preten<strong>de</strong>ndo adoptar o que <strong>de</strong>signa <strong>de</strong><br />

“juízo <strong>de</strong> Salomão”, vai, no entanto, consi<strong>de</strong>rar como irregular o Comité Central <strong>de</strong><br />

Caetano <strong>de</strong> Sousa/Pires Barreira e sentenciar que a acção das Juventu<strong>de</strong>s Comunistas<br />

exorbitava o seu âmbito e pretendia substituir-se ao próprio partido, já que havia sido a<br />

força propulsora da Conferência Nacional <strong>de</strong> Militantes que elegera o novo CC.<br />

Droz inclinava-se para o apoio ao grupo <strong>de</strong> Carlos Rates, maioritário, que em<br />

sua opinião não só <strong>de</strong>senvolvia efectiva activida<strong>de</strong> sindical como se manifestava<br />

100 Cf Relatório e memórias <strong>de</strong> Jules Humbert Droz sobre a sua missão e permanência em Portugal em 1923, in César <strong>de</strong><br />

Oliveira, O primeiro congresso do Partido Comunista Português, Seara <strong>Nova</strong>, <strong>Lisboa</strong>, 1975, pp 75-76<br />

101 Cf Jurgen Rojahn, A matter of perspective: some remarks on the periodization of the history of the Communist<br />

International, in Center and Perifhery, IISH, Amsterdão, 1996, pp 35-45<br />

102 Relatório e memórias <strong>de</strong> Jules Humbert Droz sobre a sua missão e permanência em Portugal em 1923, in César <strong>de</strong><br />

Oliveira, O Primeiro Congresso do Partido Comunista Português, Seara <strong>Nova</strong>, <strong>Lisboa</strong>, 1975, pp75-76<br />

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