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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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É interessante verificar como na apreciação dos quadros no sector se insiste com<br />

alguma frequência em aspectos que inci<strong>de</strong>m sobre a vida particular, mesmo íntima, dos<br />

militantes, nomeadamente no que se reporta aos seus comportamentos <strong>de</strong> natureza<br />

sexual, genericamente <strong>de</strong>signados <strong>de</strong> “morais”.<br />

De qualquer modo, esta nova organização estudantil reflecte as profundas<br />

mudanças, ainda que lentas e subterrâneas, que tornam a nova vanguarda, como referiu<br />

Silva Marques, “verda<strong>de</strong>iramente estudantil, realmente integrada na sua comunida<strong>de</strong><br />

estudantil” 1748 , começando a penetrar e a organizar-se com alguma extensão entre os<br />

estudantes liceais.<br />

Os seus militantes rompiam com a tradição boémia, da cabulice estudantil, mas<br />

ao mesmo tempo sectária enquistada sobre si própria, relativamente indiferente aos<br />

problemas concretos vividos nas universida<strong>de</strong>s em particular e passavam a interessar-se<br />

pelos problemas <strong>de</strong> natureza associativa, pelas activida<strong>de</strong>s culturais que <strong>de</strong>senvolviam<br />

no âmbito das Associações <strong>de</strong> Estudantes. Tratava-se, na realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira<br />

viragem para uma linha <strong>de</strong> massas. E tudo isto já não tinha praticamente nada a ver com<br />

a experiência do MUD Juvenil.<br />

Além do mais passavam a contactar directamente as fontes do marxismo, através<br />

<strong>de</strong> obras que traziam do estrangeiro, <strong>de</strong> Paris em particular, ultrapassando as sebentas<br />

requentadas em que bebiam quase que exclusivamente as gerações anteriores, que<br />

haviam vivido a experiência do MUDJ, como eram, <strong>de</strong>signadamente, os Princípios<br />

elementares <strong>de</strong> Filosofia, <strong>de</strong> Georges Politzer ou o Materialismo Histórico e o<br />

Materialismo Dialéctico, <strong>de</strong> Estaline 1749 .<br />

Este cosmopolitismo, ainda que relativo, mitigado, proporcionava um<br />

alargamento do acesso às fontes do pensamento europeu <strong>de</strong> esquerda que se quiseram<br />

articular em <strong>de</strong>bate com o marxismo, introduzindo assim novos perfis estudantis com<br />

efeitos evi<strong>de</strong>ntes ao nível dos sectores politicamente mais esclarecidos.<br />

Todavia, os efeitos permanentes da repressão, obrigando a lentos e prolongados<br />

processos <strong>de</strong> reconstituição, conferiam um traço quase permanente <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> às<br />

organizações. Aqueles que escapavam à repressão que se abatia sobre um <strong>de</strong>terminado<br />

sector, eram imediatamente suspensos da activida<strong>de</strong> partidária, o que implicava um<br />

corte com a organização, que podia representar o isolamento <strong>de</strong> um ou vários militantes<br />

por períodos prolongados.<br />

1748 J.A. Silva Marques, Relatos da Clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. O <strong>PCP</strong> visto por <strong>de</strong>ntro, <strong>Lisboa</strong>, Edições Jornal Expresso, 1976, p. 36<br />

1749 Cf. I<strong>de</strong>m, pp 37-38<br />

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