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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Central do MND distribui pessoalmente pelas redacções dos jornais um extensa nota <strong>de</strong><br />

imprensa sobre o assunto atrai sobre si a repressão policial.<br />

Para mais, nessa nota oficiosa, redigida em termos vigorosos e acutilantes, dizia-<br />

se que o governo estava a pretexto do caso <strong>de</strong> Goa a disseminar uma onda <strong>de</strong> exaltação<br />

belicista, ao mesmo tempo que <strong>de</strong>nuncia a discriminação e a exploração dos povos das<br />

colónias, do ponto <strong>de</strong> vista do acessos dos seus naturais à vida pública, das suas<br />

condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho, do seu acesso ao ensino e à cultura, da separação racial<br />

ou ainda pelo facto da opressão a que estavam sujeitos ser mais gravosa e ostensiva.<br />

Sobre o caso específico <strong>de</strong> Goa, a CC do MND apoiava-se nas <strong>de</strong>clarações do<br />

<strong>de</strong>putado Froilano <strong>de</strong> Melo, goês, eleito pela União Nacional obviamente, em que<br />

<strong>de</strong>nunciava a asfixiante centralização e discriminação do governo em relação às<br />

colónias da Índia pelo <strong>de</strong>scontentamento e <strong>de</strong>sânimo que aí se vivia.<br />

Todavia, a Nota oficiosa seguindo <strong>de</strong> perto as posições que o <strong>PCP</strong> vinha<br />

sustentando – só um governo <strong>de</strong>mocrático po<strong>de</strong>ria resolver os problemas nacionais<br />

“quer na Metrópole quer no Ultramar” 612 , num ambiente internacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da paz<br />

entre os povos, reclamando ainda assim do governo que se empenhe nessa via negocial,<br />

para o que se apoia no próprio artigo 4º da Constituição <strong>de</strong> 1933, mas acabaria por<br />

estabelecer esta reclamação no concreto bastante à revelia da orientação do <strong>PCP</strong>:<br />

“Que o Presi<strong>de</strong>nte da República use dos po<strong>de</strong>res que a Constituição lhe<br />

confere para formar um Governo que dê garantias <strong>de</strong> praticar uma política<br />

<strong>de</strong> Paz e respeitar os Direitos Fundamentais dos Cidadãos” 613 .<br />

Por mais que este <strong>de</strong>salinho tivesse expressão, a virulência do documento,<br />

particularmente os seus articulados <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia política e social, a ênfase dada a vozes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do próprio regime, a acusação <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver os problemas<br />

nacionais levavam <strong>de</strong> novo à prisão os principais dirigentes do MND, acusados não só<br />

<strong>de</strong> propalarem notícias susceptíveis <strong>de</strong> alterar a or<strong>de</strong>m pública, como,<br />

fundamentalmente, <strong>de</strong> serem uma ramificação do <strong>PCP</strong> e <strong>de</strong> traição à Pátria.<br />

A questão <strong>de</strong> Goa adquiria relevância, num momento em que a política <strong>de</strong><br />

alianças do <strong>PCP</strong> se contraíra drasticamente e quando os principais movimentos<br />

animados pelo partido, como o MUDJ e o MND atravessavam notórias dificulda<strong>de</strong>s e<br />

eram impiedosamente flagelados pela polícia. Além do mais, para além dos movimentos<br />

612 Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema <strong>de</strong> Goa, Damão e Diu, 11 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1954. cicl., p.<br />

3<br />

613 I<strong>de</strong>m<br />

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