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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Situações com estes contornos, <strong>de</strong> envolvimento das companheiras das casas<br />

com novos funcionários e dirigentes, após a prisão dos seus maridos ou companheiros,<br />

verificaram-se com alguma frequência.<br />

Alcino <strong>de</strong> Sousa Ferreira, que ingressara no partido em 1944, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias<br />

passagens pela prisão, casa com Albina Fernan<strong>de</strong>s em 1948, passando ambos à<br />

clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> no ano seguinte, vindo Alcino a ser preso em 1951 para ser libertado<br />

seis anos <strong>de</strong>pois, após o que requereu o divórcio <strong>de</strong> Albina, que, quando presa em 1961<br />

era há vários anos companheira <strong>de</strong> Octávio Pato, com um filho <strong>de</strong> ambos 1544 .<br />

Também Armando Norte, vidreiro da Marinha Gran<strong>de</strong>, que passa à<br />

clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> em 1957, poucos dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casar com Rosinda <strong>de</strong> Jesus Carvalho, é<br />

preso dois anos <strong>de</strong>pois, regressando a sua mulher à Marinha Gran<strong>de</strong> para, mais tar<strong>de</strong>,<br />

voltar à clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> com o marido preso, acompanhando um funcionário com quem<br />

passa a viver, o que suscita enormes protestos seus pela forma como o partido tolerou<br />

essa situação 1545 .<br />

O Secretariado, que não podia ser indiferente a situações <strong>de</strong>sta natureza,<br />

procurava mediar conflitos, pronunciar-se sobre as situações concretas que iam sendo<br />

colocadas, arrogando uma autorida<strong>de</strong> que, sendo antes do mais política era, nas<br />

condições <strong>de</strong> clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, também moral e até “judicial” 1546 .<br />

Mesmo colocando-se nesse plano, o <strong>PCP</strong> não era propriamente entusiástico em<br />

matéria <strong>de</strong> relações afectivas, que não tivessem o enquadramento clássico do casamento<br />

ou, quando muito, da união <strong>de</strong> facto, e, neste caso, apenas na medida em que a<br />

clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> impedisse a sua “regularização”.<br />

A <strong>de</strong>sconfiança que nutria em relação ao enamoramento ou a amiza<strong>de</strong>s mais<br />

íntimas <strong>de</strong>corriam ainda, e em boa medida, do facto <strong>de</strong> serem susceptíveis, por um lado,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sviarem as energias dos quadros das tarefas partidárias do quotidiano e, por outro,<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem implicar aspectos susceptíveis <strong>de</strong> perigar a segurança do partido, po<strong>de</strong>ndo<br />

escapar ao controlo verticalmente exercido, em particular sobre o corpo <strong>de</strong> funcionários.<br />

Deste modo, a tendência era a <strong>de</strong> procurar anular a individualida<strong>de</strong> afectiva,<br />

subordinando-a e padronizando-a em nome do partido e dos seus superiores interesses,<br />

embora prevalecesse uma gestão pragmática <strong>de</strong>stas situações que aconselhava a uma<br />

1544 Cf. TCL, 2º Juízo Criminal, Processo 92/62, 28º vol., Autos <strong>de</strong> Declarações <strong>de</strong> Maria Rodrigues Pato, em 27 <strong>de</strong> Dezembro<br />

<strong>de</strong> 1961, fls 1154-55; <strong>de</strong> Alcino <strong>de</strong> Sousa Ferreira, em 20 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1962, fls 1593-94 e Informação do GT, <strong>de</strong> 8 d Maio <strong>de</strong><br />

1962, fls 1802-03;<br />

1545 Cf. Entrevista a Francisco Martins Rodrigues, em 12 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1997<br />

1546 Cf. Ana Barradas, As Clan<strong>de</strong>stinas…, pp 45-47<br />

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