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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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No VI Congresso, a estrutura continuava a sofrer dos efeitos <strong>de</strong>ssas hecatombes<br />

repressivas. Regiões e sectores inteiros reduziam-se a um mapa <strong>de</strong> pontas e contactos<br />

individuais, <strong>de</strong> células muito débeis e dispersas, inviabilizando a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> orgânica<br />

que justificara a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comités Regionais e Sub-Regionais.<br />

Por outro lado, alterações profundas nos campos do sul, por exemplo, com a<br />

mecanização da agricultura, haviam provocado um excesso <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho mesmo<br />

nas ceifas, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando uma significativa sangria migratória principalmente para as<br />

cinturas industriais <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>. Entre 1960 e 1970, nos três distritos alentejanos – Évora,<br />

Beja e Portalegre – o número <strong>de</strong> assalariados rurais diminui em quase 61 mil efectivos,<br />

o que representa uma quebra <strong>de</strong> praticamente 62%, percentagem que se eleva para 72%<br />

só no distrito <strong>de</strong> Beja 1833 . Estas alterações têm consequências ao nível da própria<br />

implantação do <strong>PCP</strong> no Alentejo e do padrão <strong>de</strong> lutas sociais até aí verificado, com<br />

movimentações cíclicas, em torno do trabalho e da jorna no inverno e na<br />

primavera/verão, respectivamente.<br />

Em contrapartida, nalgumas gran<strong>de</strong>s empresas das cinturas industriais <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>,<br />

como os estaleiros da Lisnave, constituem-se novos bastiões da influência do Partido<br />

Comunista.<br />

A influência do <strong>PCP</strong> assentava num pequeno conjunto <strong>de</strong> organismos fortes,<br />

ainda que a maioria da suas estruturas fosse débil ou resguardando-se através <strong>de</strong><br />

activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, mantendo-se sobretudo enleadas no ciclo mensal<br />

rotineiro relacionado com a distribuição da imprensa e a recolha <strong>de</strong> fundos, mas gerindo<br />

uma influência consi<strong>de</strong>ravelmente <strong>de</strong>nsa, sem assentar propriamente numa re<strong>de</strong><br />

orgânica forte e territorialmente estruturada, à excepção <strong>de</strong> organizações na região <strong>de</strong><br />

<strong>Lisboa</strong> e das suas cinturas industriais, com <strong>de</strong>staque para o eixo <strong>de</strong> Vila Franca <strong>de</strong> Xira<br />

e em particular para a Margem Sul ou <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> “ilhas” industriais espalhadas<br />

pelo norte e centro do país – Marinha Gran<strong>de</strong> ou Covilhã-Tortosendo, <strong>de</strong>signadamente.<br />

A activida<strong>de</strong> militante, predominantemente <strong>de</strong> baixa intensida<strong>de</strong>, limitada à<br />

difusão da imprensa e ao acompanhamento e controlo <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

militantes, simpatizantes e amigos isolados e dispersos foi mantida em permanência. Os<br />

processos <strong>de</strong> luta eram, naturalmente esporádicos, <strong>de</strong>senvolvidos com gran<strong>de</strong> prudência,<br />

frequentemente em torno <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> acção contidos e recuados, mas havia toda uma<br />

influência que com maior ou menor discrição se ia disseminando nos locais <strong>de</strong> trabalho,<br />

1833 Cf Constantino Piçarra, As ocupações <strong>de</strong> terras no distrito <strong>de</strong> Beja 1974-75, Coimbra, Almedina, 2008, pp 28-36<br />

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