19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

quando Cunhal percebia bem que era ele próprio com os métodos <strong>de</strong> trabalho que<br />

implantara no partido nos anos quarenta o visado nessa história.<br />

Finalmente, e em consequência, Pedro Soares insiste longamente nas<br />

virtualida<strong>de</strong>s da <strong>de</strong>scentralização que <strong>de</strong>veria ser eficazmente implementada do topo à<br />

base, o que não estaria a suce<strong>de</strong>r. Aliás, surpreen<strong>de</strong>ntemente, ele próprio está convicto<br />

que esse é o sentido por on<strong>de</strong> o partido se vai encaminhar, afirmando:<br />

“A <strong>de</strong>scentralização que se operará (…), a redução dos perigos que ela<br />

comporta, pela redução <strong>de</strong> encontros individuais para que se resolvam problemas<br />

correntes, o vigor político que trará ao trabalho <strong>de</strong> direcção central criarão formas<br />

novas <strong>de</strong> trabalho que irão influir, <strong>de</strong> modo patente, na activida<strong>de</strong> geral do Partido” 973 .<br />

Mas, para Cunhal e os seus apoiantes esse era o principal sinal <strong>de</strong> funcionamento<br />

anti-leninista, que os levava aliás a caracterizar como anarco-liberal o <strong>de</strong>svio que viam<br />

no partido.<br />

Em contrapartida, há um outro documento, da autoria <strong>de</strong> Joaquim Gomes,<br />

também <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1960, que se <strong>de</strong>bruça especificamente sobre estas questões e<br />

que se articula <strong>de</strong> modo bem mais coerente com as teses apresentadas por Álvaro<br />

Cunhal ao CC.<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser interessante sublinhar a coincidência temporal <strong>de</strong>stes dois<br />

contributos, para mais tratando um apenas <strong>de</strong> questões políticas e o outro <strong>de</strong> aspectos<br />

organizativos, vindos precisamente <strong>de</strong> dois dos dirigentes mais importantes que<br />

chegavam <strong>de</strong> novo à direcção partidária.<br />

Joaquim Gomes não hesita em consi<strong>de</strong>rar que os métodos <strong>de</strong> trabalho seguidos<br />

pelo partido “não estão <strong>de</strong> acordo com os princípios leninistas <strong>de</strong> actuação” 974 .<br />

Individualismo, liberalismo na exposição pública, quebras frequentes <strong>de</strong> disciplina,<br />

estilo frenético a compensar <strong>de</strong>sorganização e a substituir-se aos militantes e aos<br />

organismos inferiores, autoritarismo e insensibilida<strong>de</strong> no controlo <strong>de</strong> execução são<br />

alguns dos aspectos <strong>de</strong>sfiados.<br />

Este estilo <strong>de</strong> trabalho negativo, que estava a afectar o partido, relacionar-se-ia<br />

com a <strong>de</strong>fesa da autonomia dos organismos, inscrita aliás nos próprios Estatutos<br />

aprovados pelo Congresso <strong>de</strong> 1957. Era aí que radicava o ambiente dissolvente que<br />

conduzia não só ao <strong>de</strong>srespeito pelas <strong>de</strong>cisões do CC, como constituía uma tendência<br />

973 Mo[reno] [Pedro Soares], Sobre o trabalho <strong>de</strong> Direcção, Fevereiro <strong>de</strong> 1960, dact., p. 5, i<strong>de</strong>m, [256]<br />

974 Ferreira [Joaquim Gomes], Algumas consi<strong>de</strong>rações sobre métodos <strong>de</strong> trabalho, p. 1, IAN/TT, Pi<strong>de</strong>-DGS, P. 56/GT, [77]<br />

380

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!