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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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O enquadramento <strong>de</strong>stes militantes era bastante mais complexo, mais espaçado,<br />

esvaziado praticamente <strong>de</strong> discussão política concreta e sujeito a medidas conspirativas<br />

mais apertadas. Isto conferia a esses militantes uma autonomia <strong>de</strong> acção muito gran<strong>de</strong>,<br />

que frequentemente chocaria com as próprias orientações do Partido Comunista para o<br />

sector.<br />

Porém, a influência do partido era gran<strong>de</strong> e efectiva, exercendo-se através do<br />

estatuto <strong>de</strong> colaboradores associativos, <strong>de</strong> dinamizadores dos órgãos autónomos <strong>de</strong> cariz<br />

cultural e, principalmente, através da vasta e intensa trama <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s.<br />

Por outro lado, essa influência exercia-se num contexto <strong>de</strong> coabitação,<br />

valorizada <strong>de</strong> resto, com católicos em <strong>de</strong>slocação à esquerda, com socialistas <strong>de</strong><br />

esquerda e marxistas não alinhados, mas também com alguns estudantes conservadores,<br />

mas liberais.<br />

De qualquer modo, recruta aí intensamente, o que permite crescer<br />

extraordinariamente neste sector num prazo muito curto <strong>de</strong> tempo. Mesmo ao nível dos<br />

estudantes liceais, aproveitando a polarização e radicalização que a criação da Comissão<br />

Pró-Associação dos Liceus proporciona a partir <strong>de</strong> 1961.<br />

Este movimento estudantil a evi<strong>de</strong>nciar sinais <strong>de</strong> forte inquietação e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

vitalida<strong>de</strong> bebia largamente no associativismo estudantil francês, na UNEF, União<br />

Nacional dos Estudantes Franceses, entendido como sindicalismo estudantil, na linha<br />

da carta <strong>de</strong> Grenoble, segundo a qual o estudante universitário era um jovem<br />

trabalhador intelectual com direito ao que esse estatuto lhe conferia do ponto <strong>de</strong> vista<br />

das condições <strong>de</strong> trabalho, da preparação profissional e do direito à procura da verda<strong>de</strong><br />

e da liberda<strong>de</strong> 1155 .<br />

Justamente por isso a crise académica <strong>de</strong> 1962 tem por origem os obstáculos<br />

levantados pelo regime às iniciativas conducentes à criação <strong>de</strong> uma União Nacional dos<br />

Estudantes, cujo processo é coor<strong>de</strong>nado por um secretariado <strong>de</strong> âmbito nacional,<br />

constituído já em Fevereiro <strong>de</strong>sse ano.<br />

Ainda em Novembro <strong>de</strong> 1961, as comemorações do 40º aniversário da “Tomada<br />

da Bastilha”, em Coimbra, assinalando a invasão do Clube dos Lentes pelos estudantes,<br />

instalando aí a se<strong>de</strong> da AAC, Associação Académica <strong>de</strong> Coimbra, levantavam no<br />

domínio do simbólico a ban<strong>de</strong>ira da <strong>de</strong>fesa do associativismo estudantil, tão cara aquela<br />

nova geração <strong>de</strong> estudantes, que aproveita o feriado <strong>de</strong>cretado pela Aca<strong>de</strong>mia para<br />

reunir três centenas <strong>de</strong> estudantes num encontro inter-associativo com dirigentes<br />

1155 Cf. Nuno Caiado, Movimentos estudantis em Portugal: 1945-1980, IED, <strong>Lisboa</strong>, 1990, pp 111-114<br />

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