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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Isso significa que se por acção repressiva um <strong>de</strong>terminado dirigente era preso e a<br />

sua instalação clan<strong>de</strong>stina assaltada sem que houvesse possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir o<br />

arquivo, como estava internamente <strong>de</strong>terminado, a polícia apreendia um conjunto <strong>de</strong><br />

documentação que podia ter efeitos <strong>de</strong>molidores gravíssimos.<br />

Por várias vezes, o próprio <strong>PCP</strong> o reconheceu com todas as letras 78 . Isso é<br />

particularmente patente com a prisão <strong>de</strong> Octávio Pato em 1962, na altura membro do<br />

Secretariado do Comité Central no interior do país.<br />

Pato é preso quando se dirigia a casa, a alguma distância, com a instalação e a<br />

sua movimentação já referenciadas pela polícia, o que permitiu à PIDE prendê-lo e ao<br />

mesmo tempo apreen<strong>de</strong>r todo o seu vasto arquivo.<br />

Como sob tortura se recusasse a prestar <strong>de</strong>clarações, essa documentação iria<br />

servir <strong>de</strong> matéria <strong>de</strong> prova no respectivo processo enviado ao Tribunal Plenário <strong>de</strong><br />

<strong>Lisboa</strong> 79 , sob a forma <strong>de</strong> apensos, o que significa que o acesso ao referido processo<br />

permite o acesso a um repositório documental <strong>de</strong> enorme importância do ponto <strong>de</strong> vista<br />

da história do <strong>PCP</strong>. O mesmo se po<strong>de</strong>ria dizer, ainda que com graus <strong>de</strong> importância<br />

distintos, dos processos <strong>de</strong> Álvaro Cunhal, em 1949 80 ou <strong>de</strong> Joaquim Pires Jorge, em<br />

1961 81 .<br />

Ainda assim, mesmo a avalição <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> documentação, particularmente a<br />

que se relaciona com dados organizativos referentes a números <strong>de</strong> militantes e<br />

simpatizantes ou <strong>de</strong> comités e células, tem, necessariamente, que ser consi<strong>de</strong>rada em<br />

função do modo indirecto em que po<strong>de</strong>m ser aferidos, prevenindo-nos contra eventuais<br />

tendências <strong>de</strong> sobrevalorização, mesmo que produzidas e <strong>de</strong>stinadas a consumo interno.<br />

Estes processos, cuja cópia fica em arquivo na PIDE sem os respectivos apensos<br />

é naturalmente constituído por inúmeras peças <strong>de</strong> autos <strong>de</strong> perguntas que, no caso<br />

daqueles que prestam <strong>de</strong>clarações, geram também abundante matéria <strong>de</strong> facto, mas <strong>de</strong><br />

tipo e qualida<strong>de</strong> completamente distintas, pois enquanto na documentação apreendida se<br />

trata <strong>de</strong> documentação original, nos autos estamos em presença <strong>de</strong> informação<br />

construída, muitas vezes forjada ou recolhida invariavelmente sob violência.<br />

O carácter <strong>de</strong> fiabilida<strong>de</strong> é por isso qualitativamente diferente. A míngua <strong>de</strong><br />

informação leva tantas vezes a tomar essas <strong>de</strong>clarações como dados substantivos sem<br />

que o sejam <strong>de</strong> todo, quer pela forma como foram conseguidos quer porque se po<strong>de</strong>m<br />

78 Cf. Resolução do Comité Central sobre a <strong>de</strong>fesa conspirativa do Partido, Dezembro <strong>de</strong> 1962, cicl.<br />

79 Cf. Arquivo Distrital <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, Tribunal Criminal <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, 2ªJuízo Criminal Processo 92/62<br />

80 Cf. I<strong>de</strong>m, 3º J.C., Processo 14499/49<br />

81 Cf. I<strong>de</strong>m, 4º J.C., Processo 134/62 [44695]<br />

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