19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

políticas. A partir <strong>de</strong> então fui apresentado por ela a jovens que tinham feito parte do<br />

Juvenil e comecei a contrair amiza<strong>de</strong>s” 1723 .<br />

Nos anos 50 o MUD Juvenil revelar-se-ia como a mais importante placa<br />

giratória para alimentar o aparelho <strong>de</strong> militantes e quadros do <strong>PCP</strong>. Foi uma verda<strong>de</strong>ira<br />

“escola” on<strong>de</strong> pelo menos duas gerações <strong>de</strong> activistas fizeram <strong>de</strong> modo acelerado e<br />

intenso o seu aprendizado político, adquiriram inestimável experiência, cal<strong>de</strong>ada pelo<br />

confronto directo com as forças repressivas e passando pelas próprias prisões do regime,<br />

alguns mais do que uma vez, empreen<strong>de</strong>ndo assim uma quase inevitável aproximação<br />

ao Partido Comunista, para on<strong>de</strong>, mais cedo uns que outros, acabariam por ser<br />

recrutados.<br />

Carlos Brito, Francisco Martins Rodrigues, Domingos Abrantes, Ilídio Esteves,<br />

foram alguns que chegaram ao Comité Central fazendo a sua entrada no <strong>PCP</strong> por via do<br />

MUDJ. E muitos outros, sem lograrem tocar o topo do partido, a<strong>de</strong>riram igualmente por<br />

essa via geradora <strong>de</strong> fortes solidarieda<strong>de</strong>s.<br />

Mas havia quem a<strong>de</strong>risse por <strong>de</strong>scolagem <strong>de</strong> uma formação e <strong>de</strong> uma activida<strong>de</strong><br />

marcadamente religiosa, rompendo por <strong>de</strong>scrença. Foi o caso <strong>de</strong> António Borges Coelho<br />

que após vários anos <strong>de</strong> seminário, daí vem a ser expulso, para, em Murça, sua terra <strong>de</strong><br />

origem, primeiro tocado pela dura realida<strong>de</strong> social e pelo contacto político com<br />

militantes comunistas vir, <strong>de</strong>pois em <strong>Lisboa</strong>, na Faculda<strong>de</strong>, a envolver-se com o MUD<br />

Juvenil, <strong>de</strong> que se tornará dirigente, a<strong>de</strong>rindo já nessa condição ao <strong>PCP</strong> 1724 .<br />

Chegando por múltiplos caudais, por múltiplas motivações, fossem mais<br />

i<strong>de</strong>ológicas ou mais políticas, tocados pela situação económica dos trabalhadores e pela<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar níveis <strong>de</strong> vida; <strong>de</strong>scolassem <strong>de</strong> ambientes familiares<br />

progressivos e liberais ou conservadores, aceitaram a proposta que em <strong>de</strong>terminado<br />

momento um companheiro <strong>de</strong> trabalho, um amigo, um familiar, um vizinho lhes fez, em<br />

nome do partido, recrutando-os, assumindo um compromisso, cujas implicações e<br />

perigos raramente <strong>de</strong>sconheceriam.<br />

Entre a condição <strong>de</strong> simpatizante e a <strong>de</strong> militante corria um caminho <strong>de</strong><br />

iniciação, pautado por momentos concretos – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a aquisição da imprensa ao<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> pequenas tarefas, que se podiam tornar progressivamente mais<br />

arriscadas, até ao momento da passagem formal a militante, uma promoção nesta ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> envolvimento sempre envolta em dimensões <strong>de</strong> forte carga ritual e simbólica.<br />

1723 IANTT, PIDE-DGS, P. 370/GT, Auto-Biografia, p. 1 [139]<br />

1724 Cf João Ma<strong>de</strong>ira, António Borges Coelho, militante, historiador, homem <strong>de</strong> causas e utopias, in António Borges Coelho.<br />

Procurara a luz para ver as sombras, Vila Fanca <strong>de</strong> Xira, Câmara Municipal/Museu do Neorealismo, 2010, pp 13-23<br />

727

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!