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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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<strong>de</strong> direita”, que o cunhalismo não corrigiu senão retoricamente, tanto por se basear na<br />

procura permanente da unida<strong>de</strong> privilegiada com a burguesia liberal, em <strong>de</strong>trimento da<br />

aliança com o campesinato, da luta anti-colonial ou da luta armada.<br />

6.<br />

As condições <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong>, a constante vigilância policial, a repressão não<br />

permitiram que o <strong>PCP</strong> fosse um partido com um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> militantes. A sua<br />

base, pouco numerosa, sempre abaixo dos níveis que havia alcançado no final da <strong>guerra</strong><br />

teve no entanto um carácter genuinamente popular. Operários, assalariados agrícolas,<br />

trabalhadores pobres das cida<strong>de</strong>s e das vilas, empregados conferiam-lhe esse carácter,<br />

ainda que no partido tenham militado núcleos expressivos <strong>de</strong> profissionais liberais, da<br />

intelectualida<strong>de</strong> e dos estudantes. Foram todos estes que constituíram a interface com a<br />

socieda<strong>de</strong>, aqueles que a partir dos locais <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> habitação, das colectivida<strong>de</strong>s,<br />

nos movimentos “legais” mais se expuseram, arriscando o emprego, a liberda<strong>de</strong> e em<br />

limite a própria vida.<br />

O corpo <strong>de</strong> militantes assegurou em permanência a continuida<strong>de</strong> do partido,<br />

mesmo que a um nível tão elementar como fundamental <strong>de</strong> fazer chegar a sua imagem e<br />

a sua voz através da imprensa, on<strong>de</strong> fosse possível.<br />

O que faltava aos militantes comunistas em preparação política e formação<br />

i<strong>de</strong>ológica era como que compensado em voluntarismo, entrega, coragem, persistência,<br />

vivendo sob o espectro da prisão e da cedência sob a violência da intimidação e da<br />

tortura. A resistência e a intransigência diante da polícia, a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à União Soviética,<br />

a aceitação do centralismo <strong>de</strong>mocrático e da disciplina partidária, a lealda<strong>de</strong> ao partido<br />

foram os elementos estruturantes da formação dos militantes, uma formação<br />

eminentemente prática, adquirida em contextos não formais, transmitida pelo exemplo e<br />

pela socialização partidária, mesmo que irregular.<br />

A própria tradição estalinista, sobrevivendo aos ventos do XX Congresso do<br />

PCUS, fez com que em Portugal afirmar-se como estalinista era afirmar-se como<br />

comunista e, para a maioria dos militantes, das gerações <strong>de</strong> militantes e das suas orlas<br />

mais ou menos próximas, isso significava estar do lado da luta contra o fascismo.<br />

Em boa medida por isso, ter, para lá <strong>de</strong> tímidos limites <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração, i<strong>de</strong>ias<br />

diferentes ou posturas divergentes era, nessa lógica estreita, afrontar e atentar contra a<br />

unida<strong>de</strong> do partido, enfraquecê-lo e assim servir objectivamente o regime.<br />

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