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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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plasmar a influência política do partido, com i<strong>de</strong>ias e sobretudo com militantes e<br />

quadros.<br />

Numa espécie <strong>de</strong> cartilha <strong>de</strong>stinada a preparar a intervenção dos comunistas, que<br />

o Secretariado do Comité Central edita em Novembro <strong>de</strong> 1948 esse aspecto é<br />

particularmente vincado 438 . Disso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria afinal o essencial da estratégia <strong>de</strong>lineada<br />

pelo <strong>PCP</strong>, que passava por manter uma atitu<strong>de</strong> abstencionista à boca das urnas.<br />

Se o manifesto eleitoral do candidato é divulgado em Julho e aí se consagram as<br />

condições mínimas <strong>de</strong> participação, era, passado o verão, visível que essas condições<br />

não tinham sido nem viriam a ser aceites pelo governo.<br />

Os sectores não comunistas, e inclusivamente o próprio candidato <strong>de</strong>fendiam ou<br />

inclinavam-se para a ida às urnas, mesmo que percebessem a asfixia <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>s e a<br />

dimensão dos constrangimentos à participação da oposição, por vezes brutal, que<br />

avivava o carácter fraudulento das eleições. Esta era uma condição essencial para dar<br />

corpo à estratégia <strong>de</strong> transição dominante entre estes sectores.<br />

Não obstante, a questão da ida às urnas grassara também nas fileiras<br />

comunistas. Mário Soares parece ter-se inicialmente inclinado nesse sentido ao relatar<br />

uma discussão com Luís Gue<strong>de</strong>s da Silva (Armando), o seu controleiro, que era<br />

membro suplente do Comité Central. Admitindo que a vitória <strong>de</strong> Norton não era<br />

impossível, pon<strong>de</strong>rava as vantagens e <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>ssa ida a sufrágio, enten<strong>de</strong>ndo<br />

que “mesmo em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota, alguma coisa ficaria <strong>de</strong> pé, o movimento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sões<br />

por todo o país era amplíssimo, teríamos seguramente um bom resultado e a Oposição<br />

sairia legitimada” 439 .<br />

Campino refere-se também a esta situação. Militantes do partido enfileiravam<br />

com muitos outros activistas enten<strong>de</strong>ndo que a situação se assemelhava ao período<br />

imediatamente anterior à revolução <strong>de</strong> 1910, em que o partido republicano sempre tinha<br />

concorrido às eleições, conseguira eleger <strong>de</strong>putados e, acima <strong>de</strong> tudo, ampliar a sua base<br />

<strong>de</strong> apoio e forçar a queda da monarquia 440 , que era o mesmo que dizer que, então, a<br />

mesma estratégia po<strong>de</strong>ria ser seguida para forçar a queda do regime.<br />

Essa hesitação havia mesmo sido induzida pelo tom ambíguo com que alguns<br />

artigos <strong>de</strong> fundo da imprensa do <strong>PCP</strong>, particularmente do Avante!, se referiam à<br />

candidatura ao admitir a sua eleição 441 , o que teria sido corrigido com o regresso <strong>de</strong><br />

438 Cf. Secretariado do Comité Central do <strong>PCP</strong>, O Partido Comunista e as “eleições” presi<strong>de</strong>nciais, Novembro <strong>de</strong> 1948<br />

439 Maria João Avillez, Soares, Ditadura e Revolução..., p. 84<br />

440 Afonso [Joaquim Campino], Algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a campanha..., pp 6-7<br />

441 Cf. José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal..., Volume 2..., pp 834-835<br />

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