19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A conjuntura internacional com o a<strong>de</strong>nsamento do clima <strong>de</strong> <strong>guerra</strong> <strong>fria</strong> ajudava a<br />

crispar as relações entre as correntes <strong>de</strong>mo-liberais e socializantes e os comunistas e<br />

contribuía para que um clima <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentendimento e tensão fermentasse, mesmo em<br />

tempo <strong>de</strong> combate político agudo como era a campanha presi<strong>de</strong>ncial.<br />

Porém, neste contexto, à medida que crescia a tensão entre as correntes e<br />

sectores que apoiavam o general, o <strong>PCP</strong> prefere impor que um representante seu seja<br />

aceite nos serviços centrais <strong>de</strong> candidatura. É em Mário Soares que recai essa<br />

incumbência, que formalmente já aí representava a juventu<strong>de</strong>, isto é, o MUD Juvenil, a<br />

cuja Comissão Central pertencia.<br />

A reacção do general e do seu círculo mais próximo é <strong>de</strong>vastadora face à<br />

revelação do próprio Soares, a meio da campanha, que a partir daí seria o representante<br />

oficial do <strong>PCP</strong>. Não só seria <strong>de</strong>salojado do gabinete que ocupava, como proibido <strong>de</strong><br />

ace<strong>de</strong>r ao piso da se<strong>de</strong> <strong>de</strong> candidatura em que funcionava o general e o grupo mais<br />

chegado <strong>de</strong> colaboradores, assim como proibido <strong>de</strong> ter uma participação visível nas<br />

sessões e comícios públicos. Como reconhece, “Nunca mais voltei a falar com o<br />

Norton, nunca mais me recebeu. Quebrara-se irreversivelmente a nossa ligação, que<br />

fora, até aí, directa e fecunda” 449<br />

O <strong>de</strong>sentendimento, a quebra <strong>de</strong> confiança e o fim do difícil e instável ambiente<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, consumar-se-iam na reunião <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1949, a escassos dias das<br />

eleições, quando as estruturas da candidatura são chamadas a pronunciarem-se sobre se<br />

o general <strong>de</strong>veria ou não ir às urnas.<br />

Sem ter um carácter propriamente <strong>de</strong>liberativo, mas muito concorrida porque<br />

susceptível <strong>de</strong> condicionar, como se verificou, a <strong>de</strong>cisão final <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos sobre<br />

esta matéria, participaram aí quase sete <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>legados, pertencendo aos serviços<br />

centrais <strong>de</strong> candidatura, a 15 das 17 comissões distritais existentes e às estruturas<br />

sectoriais – interprofissional <strong>de</strong> trabalhadores, juventu<strong>de</strong> e mulheres – a que acresciam<br />

ainda muitos assistentes.<br />

A reunião iniciou-se logo com um inci<strong>de</strong>nte em torno <strong>de</strong> quem tinha direito a<br />

voto, com Norton <strong>de</strong> Matos a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r serem só os presi<strong>de</strong>ntes das comissões distritais,<br />

o que seria rebatido por Mário <strong>de</strong> Azevedo Gomes, para o general finalmente<br />

<strong>de</strong>terminar que não haveria lugar a qualquer votação, cabendo-lhe a ele pessoalmente a<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ouvidos os presentes.<br />

449 Maria João Avillez, Soares, Ditadura e Revolução..., p. 84<br />

178

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!