19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

José <strong>de</strong> Sousa herda um profundo lastro sindicalista revolucionário, <strong>de</strong> que<br />

nunca se conseguiu completamente libertar, pouco avesso às elucubrações e aos <strong>de</strong>bates<br />

doutrinários, espontaneísta, renitente à flexibilida<strong>de</strong> e ao manobrismo táctico, her<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong> uma tradição sindical tão orgulhosa quanto rígida e sectária, que nunca venceu os<br />

conceitos <strong>de</strong> acção directa que trazia da sua juventu<strong>de</strong>. É Sousa aliás quem melhor<br />

transporta o fio da história do <strong>PCP</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as suas origens, vinte anos antes, carregando<br />

as sucessivas resistências à bolchevização.<br />

Bento, por sua vez, representa o militante estudioso, o intelectual orgânico da<br />

classe operária, culto, inteligente, profissional competente, operário <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

fábrica, que a<strong>de</strong>re ao partido já em plena ditadura militar, que incorpora com<br />

extraordinária facilida<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bolchevização do partido e as consignas da<br />

Internacional Comunista.<br />

Todavia, no Tarrafal, isolado, procura, á luz dos travejamentos doutrinários que<br />

assimilara, interpretar a nova situação criada com a <strong>guerra</strong> emergente e <strong>de</strong>sliza para<br />

interpretações e para propostas que o levam inclusivamente a admitir, em nome da<br />

in<strong>de</strong>pendência do país e da <strong>de</strong>fesa da nação, uma convergência <strong>de</strong> interesses com o<br />

regime que o atirara a si e aos seus companheiros para aquele “campo da morte lenta”,<br />

num <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita evi<strong>de</strong>nte.<br />

Foi neste contexto, mesmo que aplainados os excessos voluntaristas da Política<br />

<strong>Nova</strong>, mesmo que verificado como se tinha ido longe nessa lógica, que a<br />

“reorganização” foi congeminada. É possível que Bento estivesse, por via disso, um<br />

pouco afastado e que não pertencesse inclusivamente ao chamado Comité dos Dez, que<br />

era o órgão dirigente da OCPT.<br />

Mas, já no interior a “reorganização” faz-se com um enquadramento doutrinário<br />

bastante mais informado da política <strong>de</strong> Estaline para o movimento comunista<br />

internacional, liberta <strong>de</strong> quaisquer laços à Política <strong>Nova</strong>, mas com uma componente<br />

nacional-comunista vincada.<br />

Logo em Outubro <strong>de</strong> 1941, o Avante! faz entroncar a participação popular na “causa da<br />

liberda<strong>de</strong> e dos aliados! “ com a tradição da participação popular em 1383, 1820 e 1910.<br />

A questão nacional passava a assumir um lugar central na propaganda partidária.<br />

Sinal importante <strong>de</strong>sta evolução é a publicação pelo <strong>PCP</strong> durante o ano <strong>de</strong> 1942,<br />

<strong>de</strong> um extenso documento doutrinário, provavelmente da autoria <strong>de</strong> Júlio Fogaça, a<br />

propósito da questão nacional. Parte da constatação que naquela conjuntura era<br />

essencial estudar o problema da Nação numa perspectiva marxista-leninista para<br />

125

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!