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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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<strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> consciência intermédia, pelo que só tardiamente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um<br />

longo período pouco clarificador é que a jornada nacional <strong>de</strong> protesto seria lançada.<br />

No entanto, durante um mês, <strong>de</strong> modo praticamente ininterrupto, as greves<br />

suce<strong>de</strong>ram-se, embora dispersas e frágeis. Cerca <strong>de</strong> sessenta mil trabalhadores, segundo<br />

números estimados pelo <strong>PCP</strong>, estiveram em greve por motivos fundamentalmente<br />

políticos, isto é, contra a burla eleitoral, pela libertação dos presos políticos e pela<br />

<strong>de</strong>missão <strong>de</strong> Salazar e Santos Costa. Nalguns locais a radicalização esteve ao rubro e<br />

registaram-se confrontos violentos com as forças policiais.<br />

Em aberto permaneceria a contradição entre, por um lado, esta radicalização que<br />

se vinha manifestando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da campanha eleitoral, que trazia um mar <strong>de</strong> gente<br />

para a rua, que enfrentava a polícia e que requeria respostas face à frau<strong>de</strong> eleitoral e, por<br />

outro, um núcleo dirigente amarrado a uma linha política que apostava no afastamento<br />

pacífico <strong>de</strong> Salazar, com todas as implicações daí resultantes ao nível da política <strong>de</strong><br />

alianças e dos procedimentos tácticos.<br />

No entanto, um sector do proletariado, <strong>de</strong>ntro e fora do partido Comunista<br />

mantinha acesa a combativida<strong>de</strong> e amadurecia a convicção que só a radicalização da<br />

luta social e política, combinando acções <strong>de</strong> tipo superior como greves e manifestações<br />

com acções violentas constituiria o caminho para <strong>de</strong>sagregar o regime e <strong>de</strong>rrubar<br />

Salazar.<br />

Era da parte <strong>de</strong>stes sectores que partiam aliás as críticas às expectativas<br />

<strong>de</strong>positadas numa conspiração militar em preparação que, vitoriosa <strong>de</strong>rrubasse Salazar<br />

e Santos Costa, que os órgãos executivos do <strong>PCP</strong> acompanhavam atentamente,<br />

<strong>de</strong>svalorizando, segundo essas opiniões, a acção operária in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

Numa reunião do Comité Regional <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, em meados <strong>de</strong> Junho, um dos<br />

participantes “consi<strong>de</strong>ra que o P. por não ter pensado nas acções futuras se <strong>de</strong>sviou<br />

para o golpe militar” 908 .<br />

Reportava-se certamente à gorada tentativa <strong>de</strong> golpe prevista para 2 <strong>de</strong> Junho 909 ,<br />

já na recta final da campanha eleitoral. A <strong>de</strong>sarticulação da conspiração teria ficado a<br />

<strong>de</strong>ver-se, pelo menos em boa parte, a Craveiro Lopes, ainda que os seus apoiantes civis<br />

e militares tenham cometido dois erros graves <strong>de</strong> capitulação: haviam <strong>de</strong>ixado cair o<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República em exercício como candidato e haviam-se, <strong>de</strong>pois, aterrorizado<br />

com a ebulição popular.<br />

908 Cf Discussão da greve no CR em 13/VI, dact., 1 p., Processo. 90/62... , 14º vol, apenso a fls 769<br />

909 Cf. Memórias <strong>de</strong> Humberto Delgado…, p. 135<br />

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