19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Todavia, mesmo entre membros do Comité Central, um afastamento, por vezes<br />

muito prolongado, da companheira é apresentado como motivo para a ocorrência <strong>de</strong><br />

outro tipo <strong>de</strong> relacionamentos no seio do partido, mantendo formalmente a condição <strong>de</strong><br />

casados. José Magro, numa surpreen<strong>de</strong>nte confissão, reconhece os efeitos <strong>de</strong>sse<br />

afastamento, motivado sobretudo pela prisão – “a solicitação implícita <strong>de</strong> uma<br />

constante presença feminina para um esfaimado sexual com perto <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong><br />

prisão. O esfaimado queria manter-se fiel a uma companheira fiel que atravessara a<br />

mesma prova e que se encontrava agora presa. Resistiu com sofrimento e alguma<br />

coragem durante cerca <strong>de</strong> um ano… mas acabou por sucumbir.<br />

Esta fraqueza, humana talvez, mas tão injusta para com a companheira<br />

querida, acabou por <strong>de</strong>smoralizá-lo e levá-lo a cometer em outras épocas novas<br />

fraquezas semelhantes ou até mais graves e a «cortar» com a companheira para tentar<br />

diminuir a irregularida<strong>de</strong> da situação – provocando-lhe assim novos sofrimentos com<br />

manifesta cruelda<strong>de</strong>.<br />

O Partido criticou severamente essas fraquezas…” 1539 .<br />

A vida clan<strong>de</strong>stina, nestas matérias, criava situações que constituíam factores <strong>de</strong><br />

tensão acrescida, <strong>de</strong>ixando inevitavelmente sequelas e ranger <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes que só a<br />

<strong>de</strong>voção ao partido permitia compensar.<br />

António Dias Lourenço, já do Comité Central, vira a sua companheira, Casimira<br />

Silva, com quem era casado, envolver-se com um outro membro da Direcção, José<br />

Augusto da Silva Martins. Colocada a situação ao Secretariado do Partido, fora<br />

<strong>de</strong>terminado que Silva Martins alugasse um quarto em <strong>Lisboa</strong> e o casal se mantivesse<br />

na sua casa até haver uma <strong>de</strong>cisão, que acabaria por ser no sentido <strong>de</strong> que Casimira e<br />

Silva Martins se organizassem como casal e instalassem uma casa do partido 1540 .<br />

Silva Martins, responsável pelas tipografias clan<strong>de</strong>stinas, era, por sua vez<br />

controlado por Manuel Domingues, que respondia directamente junto do Secretariado.<br />

Numa noite, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma reunião <strong>de</strong> controle, Domingues <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ficar na casa e,<br />

como só houvesse uma cama, dormir juntamente com o casal, o que os <strong>de</strong>ixou<br />

completamente incomodados. Noutra ocasião, Casimira é chamada a <strong>de</strong>sempenhar uma<br />

tarefa não mencionada fora da sua instalação casa durante cerca <strong>de</strong> um mês e que<br />

Domingues viria, com autorização do Secretariado, a dizer ter sido <strong>de</strong>sempenhada em<br />

sua casa.<br />

1539 José Magro, Cartas da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>…, p. 150-51<br />

1540 Cf IANTT, PIDE-DGS, PC 64/GT [3-30]<br />

639

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!