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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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A i<strong>de</strong>ia do Programa distanciava-se aliás do conceito <strong>de</strong> programa mínimo<br />

<strong>de</strong>fendido pelo <strong>PCP</strong>, na tradição dos 9 pontos-programa para a unida<strong>de</strong> nacional,<br />

apresentados pelo Comité Central em Março <strong>de</strong> 1943 a todas os agrupamentos<br />

oposicionistas e que viria a <strong>de</strong>sembocar no MUNAF.<br />

Aqui tratava-se da iniciativa <strong>de</strong> um sector político da oposição que se pretendia<br />

afirmar e que tinha, evi<strong>de</strong>ntemente, aspirações <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, <strong>de</strong> hegemonia no quadro<br />

das oposições ao regime, mas que também estava longe <strong>de</strong> constituir um bloco<br />

homogéneo.<br />

Entre a Resistência Republicana-Socialista, que parece ter li<strong>de</strong>rado e conduzido<br />

todo o processo, com o apoio <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Azevedo Gomes, o grupo da Seara <strong>Nova</strong>,<br />

mais radical, e personalida<strong>de</strong>s liberais como Acácio Gouveia ia todo um espectro<br />

político exterior ao <strong>PCP</strong>, mas que necessitava <strong>de</strong> construir uma plataforma <strong>de</strong> equilíbrio<br />

que consensualizasse tradições, experiências e posicionamentos doutrinários distintos.<br />

Segundo Mário Soares, o Programa para a Democratização da República “Quis<br />

ir mais longe e ser já um programa no sentido estrito do termo – <strong>de</strong>finidor <strong>de</strong> um<br />

i<strong>de</strong>ário e <strong>de</strong> uma política coerente <strong>de</strong> centro esquerda, susceptível <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear uma<br />

verda<strong>de</strong>ira alternativa para o fascismo salazarista. O seu objectivo era dar a conhecer,<br />

tanto interna como externamente, a existência <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> pensamento, <strong>de</strong> estilo<br />

europeu, capaz <strong>de</strong> assumir o po<strong>de</strong>r, em qualquer oportunida<strong>de</strong> favorável, preenchendo<br />

o «vazio político» criado pelo salazarismo” 1047<br />

Há, no entanto, entre os militantes e quadros “legais” do <strong>PCP</strong> uma certa atracção<br />

pelo documento, cujo processo <strong>de</strong> elaboração iam acompanhando. Em Novembro <strong>de</strong><br />

1960, quando já se encontrava em fase avançada <strong>de</strong> elaboração, um <strong>de</strong>sses quadros,<br />

informa o partido da sua estrutura e conteúdo, da metodologia utilizada, dos diferentes<br />

tipos <strong>de</strong> colaboração e emite um conjunto <strong>de</strong> observações e reparos. Reconhece haver na<br />

introdução uma certa sobrevalorização da figura <strong>de</strong> Salazar em <strong>de</strong>trimento do regime,<br />

mas acaba por concluir que os pontos referentes à institucionalização da <strong>de</strong>mocracia, ao<br />

<strong>de</strong>smantelamento do corporativismo e mesmo alguns capítulos mais específicos, como<br />

os que se reportavam às políticas sociais – habitação, saú<strong>de</strong> pública, ensino e<br />

investigação científica são bastante aceitáveis e suscitam o apoio <strong>de</strong> todas as correntes<br />

da oposição, isto é, <strong>de</strong>veriam merecer o apoio do <strong>PCP</strong>.<br />

As maiores reticências iam principalmente para os capítulos referentes à questão<br />

colonial, on<strong>de</strong> a perspectiva da auto<strong>de</strong>terminação se subordinava à unida<strong>de</strong> metrópole-<br />

1047 Mário Soares, Portugal Amordaçado… p. 282<br />

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