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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Mas o <strong>PCP</strong> continuava seguramente a acompanhar as movimentações<br />

putschistas. Nesse mês, o governo <strong>de</strong>sarticulara o que ficou conhecido como golpe da<br />

Mealhada. O ex-tenente Fernando Queiroga, <strong>de</strong>mitido do exército por implicação num<br />

movimento militar <strong>de</strong> 1938, avançara a partir do Porto, para sul, com escassos homens e<br />

muitos apoios gorados, numa altura em que a direcção do movimento – a Junta Militar<br />

<strong>de</strong> Libertação Nacional, constituída em Julho <strong>de</strong>sse ano – primeiro adiara e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>sconvocara a acção. Interceptado na zona da Mealhada, em manifesta condição <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong> militar acabaria por se ren<strong>de</strong>r e ser preso 393 .<br />

A Junta era um típico produto da estratégia putschista enrobustecido no <strong>de</strong>curso<br />

da <strong>guerra</strong>. Congregava velhas figuras militares do republicanismo mo<strong>de</strong>rado e<br />

conservador, articulava-se com uma correspon<strong>de</strong>nte componente civil, manobrava junto<br />

<strong>de</strong> alguma oficialagem a <strong>de</strong>scolar ou em dissidência do regime e dispunha <strong>de</strong> um<br />

programa político brando, basicamente assente no restabelecimento das liberda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>mocráticas.<br />

Mas em Outubro <strong>de</strong> 1946 a Junta aguentar-se-ia e insistiria com nova<br />

movimentação. E disso teria o <strong>PCP</strong> conhecimento, a avaliar pela conclusão que imprime<br />

ao manifesto <strong>de</strong>sse mesmo mês:<br />

“Uma manobra não resolve a situação. Só um governo <strong>de</strong><br />

portugueses honrados po<strong>de</strong> conduzir Portugal à Democracia e ao convívio<br />

das nações e po<strong>de</strong> dar voz à nação em eleições livres. Pensa o PC que um<br />

tal governo para cumprir a sua missão, <strong>de</strong>veria ser um Governo <strong>de</strong><br />

concentração nacional com representantes <strong>de</strong> todas as correntes políticas<br />

nacionais. Mas o Partido Comunista apoiará qualquer governo numa<br />

política orientada no sentido expresso nos 10 pontos” 394 .<br />

A viragem que o <strong>PCP</strong> reclama parece relacionar-se com essas movimentações,<br />

que julgava disporem <strong>de</strong> apoios militares susceptíveis <strong>de</strong> as tornar vitoriosas. Era mais<br />

uma vez a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar presente, <strong>de</strong> não ser arredado <strong>de</strong> uma solução assente no<br />

<strong>de</strong>rrube <strong>de</strong> Salazar.<br />

Porém, mesmo nas fileiras do <strong>PCP</strong> afloravam opiniões e pontos <strong>de</strong> vista, que<br />

evi<strong>de</strong>nciam porosida<strong>de</strong> com o que se conspirava a nível militar. O importante<br />

documento atribuído a Álvaro Cunhal, editado em Dezembro <strong>de</strong>sse ano sobre as<br />

393 Cf. L[uís]F[arinha], Putschismo, in Dicionário <strong>de</strong> História do Estado Novo, II, Círculo <strong>de</strong> Leitores, <strong>Lisboa</strong>, 1996, pp 807-808;<br />

T[elmo]F[aria], Golpe da Mealhada, in Dicionário <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Portugal, 8, Figueirinhas, <strong>Lisboa</strong>, 1999, pp 101-102<br />

394 No interesse do Povo e da Pátria impõe-se urgentemente uma viragem...<br />

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