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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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organização relacionadas com o boletim O Militante ou com a circulação daqueles<br />

materiais <strong>de</strong> apoio ao estudo e ao <strong>de</strong>bate.<br />

Os contributos <strong>de</strong> Guilherme da Costa Carvalho reflectiam o ímpeto<br />

profundamente crítico que animava os quadros que haviam fugido <strong>de</strong> Peniche, mas o<br />

partido dispunha <strong>de</strong> uma direcção, legitimada aliás por um congresso relativamente<br />

recente, que se sustentava na interpretação da linha política aí aprovada.<br />

Por isso, <strong>de</strong> todos aqueles elementos, Álvaro Cunhal era o que mais autorida<strong>de</strong><br />

recolhia e que maior capacida<strong>de</strong> dispunha para empreen<strong>de</strong>r esse processo <strong>de</strong><br />

rectificação, ainda que no momento da fuga não fosse membro do Comité Central, para<br />

o qual não havia sido eleito no V Congresso por se encontrar preso. Des<strong>de</strong> logo<br />

reintegrado, inicia, evi<strong>de</strong>ntemente, o processo <strong>de</strong> rectificação, tendo sido, por isso<br />

mesmo, dos que menos tempo esteve na “quarentena” conspirativa.<br />

As primeiras reuniões teriam sido longas e as reservas levantadas por Cunhal à<br />

orientação partidária nem sempre aceites pelos membros <strong>de</strong>ssa direcção em funções,<br />

que discordava das suas críticas e observações, insistindo que a linha aplicada e o estado<br />

do partido eram normais, que havia exagero nos seus pontos <strong>de</strong> vista e que muitas das<br />

i<strong>de</strong>ias e perspectivas veiculadas reflectiam os anos <strong>de</strong> prisão e estavam <strong>de</strong>sajustadas em<br />

relação à nova situação existente.<br />

Contudo, esta reacção <strong>de</strong>pressa se foi dissipando, ao mesmo tempo que se<br />

<strong>de</strong>slocavam as posições da maioria dos dirigentes 967 . O Comité Central vai reunir pela<br />

primeira vez, com carácter extraordinário, em Fevereiro <strong>de</strong> 1960, reunião que marca o<br />

arranque formal do processo que ficaria oficialmente <strong>de</strong>signado <strong>de</strong> “correcção do<br />

<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita”.<br />

Muitas das linhas da intervenção crítica <strong>de</strong> Guilherme Carvalho seriam<br />

incorporadas por Cunhal, reflectindo pelo menos uma consi<strong>de</strong>rável coincidência <strong>de</strong><br />

pontos <strong>de</strong> vista já <strong>de</strong>senhada na prisão.<br />

Dos que haviam fugido <strong>de</strong> Peniche participam na reunião pelo menos Joaquim<br />

Gomes, Guilherme da Costa Carvalho e Álvaro Cunhal, que entregara previamente o<br />

documento “Algumas teses sobre a situação política”.<br />

A distribuição do documento pelos membros daquele órgão <strong>de</strong> direcção<br />

partidária teria levantado dúvidas sobre a intenção do Secretariado em funções o querer<br />

levar à discussão. Guilherme Carvalho, por exemplo, não sabe bem, num primeiro<br />

momento, a quem enviar algumas observações críticas ao documento, optando por se<br />

967 Cf. Alexandre Castanheira, Outrar-se ou a longa invenção <strong>de</strong> mim, Porto, Campo das Letras, 2003, Porto, p. 162<br />

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