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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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que será aproveitado para provocar o maior número possível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> carácter revolucionário <strong>de</strong> massa, <strong>de</strong> classe contra<br />

classe...” 144<br />

Preso Bento Gonçalves, José <strong>de</strong> Sousa encabeçaria a <strong>de</strong>legação ao XII Pleno do<br />

Komintern 145 , on<strong>de</strong>, na intervenção que profere, reconhece que “No nosso partido são<br />

visíveis as fortes sobrevivências da i<strong>de</strong>ologia anarquista. Nos últimos tempos<br />

constatamos particularmente tendências terroristas isoladas” 146 . E era isso,<br />

efectivamente. Naquela conjuntura, a radicalização campeava fazendo reemergir, à<br />

sombra da forma como o partido procurava aplicar as orientações do Komintern, a<br />

extracção anarquista <strong>de</strong> raiz uma parte consi<strong>de</strong>rável do corpo <strong>de</strong> militantes.<br />

O <strong>PCP</strong> e as Juventu<strong>de</strong>s Comunistas eram profundamente sectários e nesse caldo<br />

germinava muito da <strong>de</strong>riva terrorista que borbulhou na época. Pedro da Rocha, um dos<br />

refundadores das Juventu<strong>de</strong>s Comunistas, dá conta do profundo lastro sectário que<br />

prevalecia:<br />

“A Revolução exigia <strong>de</strong> nós uma mística total. Vivíamos numa<br />

conspiração permanente e tudo o resto nos parecia fútil. Adquiríamos o<br />

hábito da autocrítica e a predisposição para o sacrifício pessoal.<br />

Fanatizados, suportávamos mal qualquer contradita. A nossa verda<strong>de</strong> era<br />

marmórea e intocável. A nossa intolerância, formal. Animados <strong>de</strong> espírito<br />

missionário, entusiasta e viril, <strong>de</strong>spidos <strong>de</strong> ambições pessoais, não<br />

admitíamos sequer que podíamos estar equivocados. (...) Sentíamo-nos<br />

investidos <strong>de</strong> uma missão re<strong>de</strong>ntora, soldados anónimos e disciplinados<br />

duma causa superior que abarcava a Humanida<strong>de</strong> e à qual,<br />

conscientemente, nos oferecíamos em holocausto” 147<br />

Por outro lado, a proclamação da República em Espanha criava ao mesmo tempo<br />

expectativas nos meios do Partido Comunista, por mais que frisassem que esse não era<br />

um elemento <strong>de</strong>terminante na situação interna.<br />

A revolta da Ma<strong>de</strong>ira, que o general Sousa Dias <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia nos primeiros dias<br />

<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1931 suscita amplos entusiasmos pela ligação que não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser<br />

feita à situação em Espanha, on<strong>de</strong> aliás também as movimentações académicas <strong>de</strong>sse<br />

144<br />

cit. por João Arsénio Nunes, Sobre alguns aspectos..., p.717<br />

145<br />

Cf IAN/TT, PIDE-DGS, P. 798-SPS, Relatório, [171-200]<br />

146<br />

José Pacheco Pereira (Introdução), Intervenção <strong>de</strong> “António” na XII Reunião Plenária da Internacional Comunista, in<br />

Estudos sobre o Comunismo, 0, Julho <strong>de</strong> 1983, p. 30<br />

147 Pedro Rocha, Escrito com Paixão..., p. 13<br />

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