19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

e, para muitos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> todas as fronteiras, estou em crê-lo, um ídolo cuja vida se<br />

<strong>de</strong>sejava eterna” 1783 .<br />

Mesmo após o XX Congresso do PC da União Soviética e o ensaio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sestalinização empreendido, este culto permaneceu como factor, componente<br />

indissociável <strong>de</strong> homogeneização dos militantes do Partido Comunista Português que<br />

nem mesmo com o <strong>de</strong>saparecimento das referências ao dirigente soviético da imprensa<br />

partidária, <strong>de</strong>signadamente no Avante!, conseguiriam erradicar por completo.<br />

O processo <strong>de</strong> reedificação partidária operou-se assim com Staline como a<br />

gran<strong>de</strong> referência do movimento comunista internacional e nesse sentido foi alimentado<br />

e inculcado <strong>de</strong> cima para baixo, através da imprensa e da acção dos funcionários e<br />

dirigentes.<br />

Esse efeito <strong>de</strong>terminou ainda um mecanismo <strong>de</strong> transferência complementar para<br />

o culto dos chefes dos partidos nacionais, que em Portugal e até meados da década <strong>de</strong><br />

50 se verificou em torno <strong>de</strong> Álvaro Cunhal, então preso.<br />

Em Maio <strong>de</strong> 1956, o Avante! referia-se a Álvaro Cunhal, que ainda não era<br />

formalmente secretário-geral, nos seguintes termos: “Cada minuto da sua vida, cada<br />

esforço da sua inteligência e saber, cada palpitação do seu gran<strong>de</strong> coração os tem ele<br />

dado fervorosamente e abnegadamente à luta por um futuro feliz para a juventu<strong>de</strong>, pelo<br />

melhoria da vida dos trabalhadores, para que em cada lar haja pão, paz e<br />

felicida<strong>de</strong>” 1784 .<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma sobrevalorização pessoal do dirigente comunista preso, cuja<br />

vida era necessário salvar – “Salvemos a vida preciosa <strong>de</strong> Álvaro Cunhal, a vida <strong>de</strong> um<br />

dos mais dignos filhos do nosso povo!”, proclamava o Avante! 1785 .<br />

Tal como em relação a Staline, também o seu aniversário foi objecto <strong>de</strong><br />

evocação nas páginas do órgão central do <strong>PCP</strong>, como suce<strong>de</strong>u quando, em 1952,<br />

completava 39 anos, sendo na circunstância <strong>de</strong>signado <strong>de</strong> “dirigente amado do<br />

proletariado português, o maior e mais clarivi<strong>de</strong>nte lutador português pela causa<br />

sagrada da Paz e da In<strong>de</strong>pendência Nacional” 1786 .<br />

Em 1954, o Secretariado do Comité Central do <strong>PCP</strong> edita um opúsculo<br />

hagiográfico sobre Álvaro Cunhal, <strong>de</strong> autoria atribuída a Júlio Fogaça, com quem havia<br />

mantido, como sabemos, intensa disputa política a propósito da “Política <strong>de</strong> Transição”.<br />

1783 Fernando Mouga, Janela da Memória, Vila <strong>Nova</strong> <strong>de</strong> Famalicão, ed. De autor, 1996, p. 324<br />

1784 Campanha <strong>de</strong> todo o povo para libertar Álvaro Cunhal, in Avante!, VI série, 213, Maio <strong>de</strong> 1956<br />

1785 Liberda<strong>de</strong> para Álvaro Cunhal!, in Avante!, VI série, 212, <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1956<br />

1786 39º aniversário <strong>de</strong> Álvaro Cunhal, in Avante!, VI série, 171, <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1952<br />

763

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!