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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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no seu arquivo, alguns participantes manifestavam reticências quanto à via pacífica. Um<br />

<strong>de</strong>les, por exemplo, i<strong>de</strong>ntificado como C., reportando-se à questão da queda do regime<br />

diz “q. <strong>de</strong>veremos colocar as 2 vias (pacífica e insurreição nacional), mas inclina-se<br />

para a última. Que só o Congº do P. po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>cidir)”. Um outro, T., no mesmo sentido<br />

enten<strong>de</strong> que “Neste momento não lhe parece previsível a conquista da <strong>de</strong>mocracia por<br />

meios pacíficos, mas salientar às massas q. esse será um objectivo e iremos até à<br />

insurreição se necessário for” 673<br />

Estas matérias, mas principalmente a questão da transição pacífica exorbitavam<br />

claramente as conclusões do IV Congresso, que se tinha pronunciado claramente pela<br />

via do insurreccional do levantamento nacional. Efectivamente, como assinalava C., só<br />

um novo Congresso se po<strong>de</strong>ria pronunciar nesse sentido, ainda que não fosse esse o<br />

entendimento <strong>de</strong> muitos quadros do partido que entendiam que as resoluções do IV<br />

Congresso comportavam a solução agora enunciada.<br />

Aliás a esse respeito, o espectro da Política <strong>de</strong> Transição pairava ainda sobre o<br />

partido. Nesse mesma reunião, F. afirma que “o probª dos meios pacíficos se não for<br />

bem discutido po<strong>de</strong>rão surgir incompreensões, até relacionados com a “P. <strong>de</strong> T.”,<br />

embora acrescente que quanto aos “meios pacíficos não há q. modificar a linha do 2º<br />

congresso mas [ir <strong>de</strong>] encontro à luz da actual situação” 674<br />

Não era isso que impediria que da reunião do CC <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1956 saísse o<br />

mais importante documento <strong>de</strong>ste período, um documento que <strong>de</strong>fine a posição do <strong>PCP</strong><br />

face à conjuntura política, enquadrando e fundamentando a viragem em curso.<br />

Recorrendo em epígrafe aos primeiros versos do conhecido soneto <strong>de</strong> Camões –<br />

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vonta<strong>de</strong>s…”, o mote estava dado, associando a<br />

dimensão simbólica nacional do poeta à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mudança, <strong>de</strong> dialéctica.<br />

O documento sistematiza um conjunto <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> argumentos que vinham<br />

sendo divulgados pelo partido, quer em comunicados da Comissão Política quer na<br />

imprensa clan<strong>de</strong>stina, ao mesmo tempo que aprofunda a argumentação proce<strong>de</strong>ndo a<br />

uma extensa análise da situação económica e social do país.<br />

Para o Comité Central do <strong>PCP</strong>, o regime estava em <strong>de</strong>sagregação acentuada,<br />

aprofundavam-se as clivagens no bloco social e político <strong>de</strong> apoio ao salazarismo, o que<br />

tornava “(…) hoje possível encontrar-se uma solução <strong>de</strong>mocrática e pacífica para o<br />

673 Situação Política 5/956, in IAN/TT, TCL, 2º JCL, Processo 90/62, 3º vol., apenso a fls 168<br />

674 I<strong>de</strong>m<br />

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