19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Apesar da repressão, verifica-se o alargamento das fileiras do <strong>PCP</strong>, o<br />

revigoramento da sua acção, a reaproximação <strong>de</strong> antigos militantes ou <strong>de</strong> muitos que se<br />

mantinham ao largo. Como que enfunadas por uma conjuntura <strong>de</strong> ofensiva, animadas<br />

pelo combate <strong>de</strong>clarado à via pacífica, pela crítica à subsestimação do movimento <strong>de</strong><br />

massas, as tendências radicais não só persistem como ganham alento.<br />

Efectivamente pedia-se armas nas ruas, engrossava o número dos que se<br />

manifestavam dispostos a integrar os grupos <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa, aviva-se a imaginação na<br />

congeminação <strong>de</strong> acções contra o regime. Em muitos sectores crescia a convicção e a<br />

euforia que se caminhava a passos muito largos para o levantamento nacional.<br />

Porém, a maioria da direcção do partido, os seus órgãos executivos refreavam os<br />

ânimos mais exaltados.<br />

Ainda em Maio, Álvaro Cunhal dá uma entrevista à Rádio Portugal Livre, que<br />

emitia a partir <strong>de</strong> Bucareste <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados <strong>de</strong> Março <strong>de</strong>sse ano 1198 . Questionado sobre<br />

como avaliava as jornadas <strong>de</strong> luta que haviam sido travadas limita-se, contido, a dizer<br />

que estão a abrir caminho ao fim do regime, <strong>de</strong>finindo três tarefas fundamentais para o<br />

seu partido – reforçar a organização, alargar a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção e impulsionar novas<br />

lutas populares.<br />

Curiosamente, o primeiro nível <strong>de</strong> organização que consi<strong>de</strong>ra necessário reforçar<br />

é o das Juntas <strong>de</strong> Acção Patrióticas, o que interliga as duas primeiras tarefas e<br />

condiciona-lhes a terceira. Esta valorização colidia aliás com o fraco papel que haviam<br />

<strong>de</strong>sempenhado e com a forte repressão que se abatia sobre essas estruturas, poucas e a<br />

maioria das quais frágeis, além <strong>de</strong> bastante assentes em acordos interpartidários ou com<br />

personalida<strong>de</strong>s individuais, a quem a movimentação social e política havia largamente<br />

ultrapassado.<br />

Mesmo que formalmente se escrevesse o contrário, na prática, isto significava<br />

repor a unida<strong>de</strong> com as restantes correntes oposicionistas em primeiro plano, quando a<br />

fecundida<strong>de</strong> dos acontecimentos parecia apontar justamente para o reforço do partido<br />

como factor fundamental para a unida<strong>de</strong> da classe operária, vindo, por complemento a<br />

arrastar a unida<strong>de</strong> das correntes <strong>de</strong>mocráticas.<br />

Sobre a questão da violência contorna completamente o papel dos grupos e<br />

brigadas <strong>de</strong> choque e <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa que tão importante papel haviam <strong>de</strong>sempenhado no<br />

enquadramento <strong>de</strong> contingentes populares em radicalização acentuada.<br />

1198 Cf. Rui Perdigão, Testemunho sobre a Rádio Portugal Livre, in Estudos sobre o Comunismo, 1, Setembro-Dezembro <strong>de</strong><br />

1983, p. 41<br />

472

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!