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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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uma sessão <strong>de</strong> homenagem a Norton <strong>de</strong> Matos, a pretexto do seu 80º aniversário,<br />

formalmente organizada por um grupo <strong>de</strong> militares republicanos <strong>de</strong> alta patente, como<br />

os coronéis Bento Roma e Ferreira Martins ou o almirante Men<strong>de</strong>s Cabeçadas.<br />

A iniciativa seria prontamente secundada pela sua congénere juvenil, a CC do<br />

MUDJ, que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> promover a recolha <strong>de</strong> 20 mil assinaturas em apoio do general 424 ,<br />

das quais consegue recolher, ainda assim, oito mil. No texto <strong>de</strong>sse abaixo-assinado,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sublinhar a sua acção como Ministro da Guerra, Alto Comissário em Angola,<br />

parlamentar, académico, embaixador, conlui:<br />

“Por isso, olhamo-lo todos hoje como um símbolo daquele tipo <strong>de</strong> homens<br />

que nos po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem guiar pelos caminhos do Futuro” 425 .<br />

Essa homenagem pública não se realizaria, porque <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> autorizada pelo<br />

Governo Civil <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> viria a ser proibida mesmo em cima da hora por Despacho do<br />

Ministro do Interior 426 . Contudo, revela bem como a candidatura do general estava na<br />

calha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros meses <strong>de</strong> 1947 e a própria forma como foi impedida a sessão<br />

parece reflectir a percepção que o governo teria <strong>de</strong>sse propósito.<br />

Na realida<strong>de</strong>, a candidatura <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos reunia uma conjunto <strong>de</strong><br />

vantagens conjunturalmente bastante interessantes. O general começava por ser<br />

presi<strong>de</strong>nte da CNUAF, que reúne já em Março <strong>de</strong> 1948, on<strong>de</strong> o seu nome é pon<strong>de</strong>rado,<br />

avaliando-se o leque <strong>de</strong> apoios que era já bastante largo, mas que <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> fora<br />

sectores significativos do Partido Republicano Português, o que inibia o general <strong>de</strong><br />

avançar, colocando como condição beneficiar <strong>de</strong>sses apoios.<br />

Se, por esse lado, a candidatura <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos balançava em hesitação, por<br />

outro, Azevedo Gomes, também membro do CNUAF, <strong>de</strong>clarava que não avançaria se o<br />

general se predispusesse a isso 427 , o que afastava quase liminarmente as pretensões dos<br />

sectores que o preferiam.<br />

Quer Soeiro Pereira Gomes 428 , quer Bento <strong>de</strong> Jesus Caraça, enquanto quadros<br />

comunistas tiveram um papel fundamental no sentido <strong>de</strong> tornar o nome <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong><br />

Matos como a escolha do <strong>PCP</strong>. Se a reunião do Comité Central <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1948 o<br />

estabelece formalmente, é possível vislumbrar o esboço <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>cisão que através <strong>de</strong><br />

424<br />

Cf. José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal..., Volume 2..., p. 808<br />

425<br />

MUD. Comissão Central, A juventu<strong>de</strong> saúda Norton <strong>de</strong> Matos, <strong>Lisboa</strong>, 29 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1947, cicl., 1 p.<br />

426<br />

MUD. Comissão Central, Comunicado. O Governo proibiu a homenagem ao General Norton <strong>de</strong> Matos, <strong>Lisboa</strong>, 30 <strong>de</strong><br />

Março <strong>de</strong> 1947, cicl., 1 p.<br />

427<br />

I<strong>de</strong>m, pp 810-811<br />

428<br />

Cf., Giovanni Ricciardi, Soeiro Pereira Gomes, Uma biografia literária, Caminho, <strong>Lisboa</strong>, pp 216-217<br />

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