19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Desse trabalho, particularmente resultante da articulação com o Grupo dos<br />

Portugueses Democratas <strong>de</strong> Inglaterra foi possível a Sertório participar como<br />

observador num seminário sobre o colonialismo português, organizado pelo Indian<br />

Council for Africa, que teve lugar em Bombaim, em Outubro <strong>de</strong> 1961.<br />

Sertório divulgou aí uma <strong>de</strong>claração subscrita por oito organizações <strong>de</strong><br />

emigrados políticos portugueses e por 86 oposicionistas individualmente, espalhados<br />

por vários países, que “reconhecem o direito a todos os povos hoje submetidos à<br />

soberania portuguesa se auto<strong>de</strong>terminarem politicamente e assumirem, se assim o<br />

<strong>de</strong>sejarem, a in<strong>de</strong>pendência” 1102 .<br />

Curiosamente, os responsáveis do <strong>PCP</strong> pelas organizações partidárias em vários<br />

países recusaram-se a subscrevê-la, argumentando que era inoportuna, na medida em<br />

que comprometia a unida<strong>de</strong> antifascista 1103 .<br />

O próprio Humberto Delgado ia evoluindo <strong>de</strong> uma solução fe<strong>de</strong>ralista para o<br />

problema colonial para a aceitação da auto<strong>de</strong>rerminação, como se verificaria em<br />

<strong>de</strong>clarações públicas que fez a seguir a ter participado em Marrocos numa reunião da<br />

CONCP, em Novembro <strong>de</strong> 1961, quando se preparava para reentrar em Portugal para<br />

acompanhar o golpe <strong>de</strong> Beja 1104<br />

De qualquer modo, a situação entre a oposição não comunista continuava a ser<br />

<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> atavismo em relação a esta matéria e o <strong>PCP</strong> se, por um lado<br />

contemporizava com ela, por outro entendia que o seu horizonte <strong>de</strong> concretização<br />

estaria sempre para lá, e como consequência, do próprio <strong>de</strong>rrube do regime.<br />

É isso que conclui o comunicado da Comissão Política do Comité Central <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1960 – “a condição fundamental para uma política em relação ás<br />

colónias que tenha em conta os interesses do povo português (que coinci<strong>de</strong>m com os<br />

interesses dos povos coloniais) é o <strong>de</strong>rrubamento do governo <strong>de</strong> Salazar, a subida ao<br />

po<strong>de</strong>r dum governo <strong>de</strong>mocrático” 1105 .<br />

Bastante mais do que uma simples questão <strong>de</strong> plano a partir do qual esse<br />

discurso era produzido, a <strong>de</strong>pendência da luta dos povos das colónias em relação à luta<br />

do povo português constituía uma permanência no discurso político do <strong>PCP</strong>. Num<br />

esquematismo empobrecedor e <strong>de</strong> extracção nacional, a libertação dos povos das<br />

colónias colocava-se como consequência do fim do regime e <strong>de</strong>terminada por um<br />

1102<br />

Cit. por Manuel Sertório, A luta contra o fascismo no exílio, Introdução a Humberto Delgado. 70 cartas inéditas, Praça do<br />

Livro, <strong>Lisboa</strong>, 1978, p. 42<br />

1103<br />

Cf. I<strong>de</strong>m, pp 41-42<br />

1104<br />

Cf. Dawn Linda Raby, A oposição no exílio e a <strong>guerra</strong> colonial, in Vértice, II série, 58, Janeiro/Fevereiro <strong>de</strong> 1994, pp 38-39<br />

1105<br />

Comunicado da Comissão Política do Comité Central do Partido Comunista Português sobre o problema colonial…<br />

433

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!