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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Mas, a crise académica <strong>de</strong> 1962, pela sua própria natureza, era ainda muito<br />

marcada por um corporativismo universitário, que lhe proporcionava aliás vasta a<strong>de</strong>são<br />

e base <strong>de</strong> apoio estudantil. O seu conteúdo político era à partida bastante esbatido, ainda<br />

que os seus objectivos se viessem rapidamente politizando, à medida que a situação<br />

evoluía. A fasquia acabaria por ser fixada bastante além do que seria inicialmente<br />

expectável, pois a greve aos exames, por exemplo, só viria a repetir-se vários anos<br />

<strong>de</strong>pois, na crise académica <strong>de</strong> 1969, em Coimbra.<br />

Naturalmente, que nestas circunstâncias predominou uma actuação <strong>de</strong> feição<br />

legalista, com as limitações daí <strong>de</strong>correntes, particularmente ao nível das estruturas <strong>de</strong><br />

direcção associativa, cujos dirigentes se <strong>de</strong>batiam em momentos cruciais entre a<br />

negociação ou a radicalização.<br />

Mas a questão que parece central é que o movimento, tal como se levantara,<br />

<strong>de</strong>corria e ganhava corpo a partir das estruturas associativas legais e não foi por isso que<br />

não soube ou não pô<strong>de</strong> criar um aparelho no mínimo semi-legal, construído para mais<br />

com meios técnicos retirados das estruturas associativas, mantendo-se em activida<strong>de</strong><br />

apesar do encerramento e da <strong>de</strong>vassa policial sobre as Associações Académicas, o que<br />

permitiu a edição regular e oportuna <strong>de</strong> quase meia centena <strong>de</strong> comunicados.<br />

Há, evi<strong>de</strong>ntemente uma carga gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção ilegal, só que inorgânica,<br />

escapando à rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> cariz mecanicista que o <strong>PCP</strong> lhe queria atribuir. Foram em boa<br />

medida os seus militantes na base com forte espontaneida<strong>de</strong> e iniciaitiva que<br />

procuraram, como pu<strong>de</strong>ram, articular a crise académica com as restantes<br />

movimentações sociais e políticas que ocorriam, mas era apenas o começo <strong>de</strong> todo um<br />

processo <strong>de</strong> politização e radicalização do movimento estudantil.<br />

É provável que o último esticão por radicalização, que foi a greve aos exames<br />

possa ter sido já feito numa altura em que previsivelmente a maré estudantil começaria a<br />

vazar com a aproximação do final do ano lectivo, como o <strong>PCP</strong> concluirá. No entanto,<br />

naquelas circunstâncias e no momento em que fora <strong>de</strong>cidido, só uma direcção ilegal,<br />

com toda a rigi<strong>de</strong>z inerente, e portanto sem qualquer tipo <strong>de</strong> relação directa com a<br />

massa estudantil, po<strong>de</strong>ria ter agido <strong>de</strong> outra forma. O problema é que todo esse tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões foi tomado em assembleias <strong>de</strong> estudantes e nisso radica uma das<br />

especificida<strong>de</strong>s fundamentais do movimento.<br />

Fica, naturalmente, por saber, se a formação <strong>de</strong> uma direcção ilegal po<strong>de</strong>ria ter<br />

levado mais longe a luta estudantil ou se, como parece, o movimento acabou por ir tão<br />

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