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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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mantinham mais irredutíveis, afastando-os <strong>de</strong> posições executivas centrais, mas<br />

mantendo-os em postos <strong>de</strong> direcção.<br />

Seriam as circunstâncias da prisão <strong>de</strong> Fogaça a ditar a sua morte política no <strong>PCP</strong>.<br />

Quando preso numa rua da Nazaré a 28 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1960, a Pi<strong>de</strong> sabia bem que<br />

estava a pren<strong>de</strong>r um membro do Comité Central que julgava continuar a fazer parte da<br />

sua Comissão Política e Secretariado 991 .<br />

Na altura com 53 anos, encontrava-se acompanhado <strong>de</strong> um jovem operário com<br />

quem materia relações homossexuais, cujas <strong>de</strong>clarações pormenorizadas vão permitir à<br />

polícia sujeitar o dirigente comunista a um humilhante processo em que as questões<br />

políticas se entrelaçam com questões morais, “<strong>de</strong> costumes”, tornando o seu processo<br />

judicial uma peça abjecta.<br />

O Avante! noticia a sua prisão como membro do Comité Central, sublinhando<br />

tratar-se <strong>de</strong> um dos mais antigos militantes em activida<strong>de</strong>, com 28 anos <strong>de</strong> vida<br />

partidária, <strong>de</strong>z dos quais preso, manifestando preocupação por <strong>de</strong>sconhecer o seu<br />

para<strong>de</strong>iro às mãos da polícia 992 .<br />

Só muitos meses <strong>de</strong>pois, em Julho <strong>de</strong> 1961 é que O Militante publica uma<br />

pequena nota em três linhas, segundo a qual o Comité Central do <strong>PCP</strong> <strong>de</strong>libera a sua<br />

suspensão do partido até esclarecimento e resolução ulterior <strong>de</strong> “aspectos da conduta”<br />

graves, embora salvaguardando que o seu comportamento perante a polícia seguiu<br />

rigorosamente os cânones estabelecidos, recusando-se a prestar quaisquer<br />

<strong>de</strong>clarações 993 .<br />

A notícia da sua expulsão parece nunca ter sido publicamente divulgada, porém<br />

uma <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong>sse ano <strong>de</strong>termina “comunicar a todo o Partido que<br />

por actos imorais, por graves faltas conspirativas que punham em perigo a segurança<br />

da Direcção do Partido e por gastos in<strong>de</strong>vidos <strong>de</strong> dinheiro, o Comité Central <strong>de</strong>cidiu,<br />

por unanimida<strong>de</strong>, expulsar Júlio Fogaça das fileiras do Partido” 994<br />

A partir daí passaram a correr no <strong>PCP</strong> versões nem sempre completamente<br />

coinci<strong>de</strong>ntes sobre as circunstâncias da sua prisão, embora acentuando invariavelmente<br />

o pretenso facto <strong>de</strong> que teria sido em flagrante relação homossexual, ora na praia ora<br />

numa pensão.<br />

991<br />

Cf. Ofício da Pi<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1960, TCL, 2º Juízo Criminal, Processo 36/61, fls 1<br />

992<br />

Cf. Desconhece-se o para<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Francisco Miguel, Júlio Fogaça e Cândida Ventura, in Avante!, VI série, 293, Setembro<br />

<strong>de</strong> 1960<br />

993<br />

Cf. Resolução do Comité Central, in O Militante, III série, 111, Julho <strong>de</strong> 1961<br />

994<br />

[sem título], in TCL, 2º Juízo Criminal, Processo 92/62, 16º vol., apenso a fls 833<br />

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