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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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tempo fosse um órgão coor<strong>de</strong>nador das activida<strong>de</strong>s dos núcleos da oposição no exterior<br />

1214 .<br />

O entendimento foi então que se <strong>de</strong>signasse <strong>de</strong> Comissão Delegada, o que<br />

reflectia o equilíbrio consensual <strong>de</strong> posições. Integrá-la-iam Piteira Santos, Sertório,<br />

Tito <strong>de</strong> Morais, Mário Ruivo, Ramos da Costa, Rui Cabeçadas e Pedro Soares, membro<br />

do Comité Central do <strong>PCP</strong> 1215 .<br />

Associava-se a esta questão outra importante controvérsia em torno do local<br />

on<strong>de</strong> instalar essa Comissão. Piteira já havia tido em Argel conversações com Ben Bella<br />

e Boumedienne, que manifestaram abertura nesse sentido, ce<strong>de</strong>ndo instalações e<br />

admitindo até a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vir a receber Delgado e Ruy Luis Gomes.<br />

Cunhal levanta algumas ressalvas a esta solução, alegando problemas <strong>de</strong><br />

segurança dos dirigentes aí instalados. Prefere claramente a Itália, on<strong>de</strong> aceita assumir<br />

as <strong>de</strong>spesas logísticas, ou mesmo a França, no que se cruzariam por um lado a<br />

simbologia dos locais – Argel e a dimensão insurreccional versus Roma ou Paris, mais<br />

i<strong>de</strong>ntificadas com as formas mais tradicionais e não violentas <strong>de</strong> luta política 1216 - e uma<br />

maior proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoios logísticos fundamentais por parte dos respectivos partidos<br />

comunistas 1217 . Todavia, face ao isolamento da proposta <strong>de</strong> Álvaro Cunhal, a Comissão<br />

Delegada será efectivamente instalada em Argel.<br />

A Conferência dirige-se ainda ao general Humberto Delgado como “o valoroso<br />

dirigente da Oposição” 1218 , o que correspondia a <strong>de</strong>positar nele funções <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança,<br />

não obstante toda a controvérsia que o tema e a figura do próprio general haviam<br />

suscitado. Cunhal, quanto a este aspecto teve um papel <strong>de</strong>cisivo quer insurgindo-se cada<br />

vez que o general era tratado em tom mais sarcástico ou <strong>de</strong>preciativo quer sublinhando<br />

bem a sua importância para o movimento <strong>de</strong>mocrático português 1219 .<br />

Neste processo <strong>de</strong> constituição da FPLN, para além dos comunistas e dos<br />

socialistas da Resistência Republicana, emerge uma terceira corrente que se estrutura<br />

organicamente, dando origem ainda em 1962 ao MAR, Movimento <strong>de</strong> Acção<br />

Revolucionária, um agrupamento que se pretendia posicionar à esquerda do <strong>PCP</strong>,<br />

reclamando-se do socialismo, <strong>de</strong>fensor da violência para o <strong>de</strong>rrube do regime,<br />

claramente influenciado quer pela experiência argelina como pela cubana, polarizando<br />

1214<br />

I<strong>de</strong>m, pp 7-9<br />

1215<br />

Cf. Dawn Linda Raby, A Resistência antifascista…, p. 250<br />

1216<br />

Cf. I<strong>de</strong>m<br />

1217<br />

Cf. Fernanda Lopes Cardoso, Um amigo no exílio, in Fernando Piteira Santos. Português, cidadão do século XX, Campo das<br />

Letras, Porto, 2003, p. 97<br />

1218<br />

Manuel Sertório, Humberto Delgado…, [carta subscrita pelos participantes da Conferência], p. 153<br />

1219 CD 25 <strong>de</strong> Abril, Fundo Manuel Sertório, FPLN, Dossier…, Conferência <strong>de</strong> Roma, pp. 7 e 14<br />

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