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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Marcelino dos Santos <strong>de</strong>sempenharia aliás em França um papel fundamental no<br />

interface <strong>de</strong> recepção aos grupos <strong>de</strong> jovens africanos que por aí passavam em trânsito<br />

para a participação nas reuniões internacionais. Pela mão <strong>de</strong> Marcelino se obtinham<br />

através da União da Juventu<strong>de</strong> Republicana, organização periférica do Partido<br />

Comunista Francês, com quem estabelecia contacto directo, os documentos necessários<br />

a prosseguir viagem 1082 .<br />

Porém, a organização criada pelo <strong>PCP</strong> para enquadrar militantes <strong>de</strong> origem<br />

colonial, <strong>de</strong>signada <strong>de</strong> sector ultramarino, que existia pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1954, mantinha<br />

uma lógica <strong>de</strong> funcionamento que basicamente o circunscrevia ao mesmo tipo <strong>de</strong> tarefas<br />

que os restantes organismos e sectores partidários – recolha <strong>de</strong> quotas e fundos,<br />

distribuição da imprensa, aliciamento <strong>de</strong> novos elementos – sendo inexpressivas as<br />

acções e iniciativas <strong>de</strong> cunho político especificamente orientadas para os problemas<br />

coloniais.<br />

Lúcio Lara, que em representação <strong>de</strong>sta estrutura vai participar no V Congresso<br />

do <strong>PCP</strong>, reconhecerá muito mais tar<strong>de</strong> que “nem sempre foi fácil (…) fazer<br />

compreen<strong>de</strong>r aos nossos amigos portugueses a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não confundirmos as<br />

respectivas lutas, que, <strong>de</strong> resto, se completavam, sem que pu<strong>de</strong>ssem por <strong>de</strong> parte que a<br />

liquidação do colonialismo acarretaria a queda do fascismo” 1083 .<br />

Em 1955 havia-se formado em Angola um Partido Comunista, cujo principal<br />

mentor era Viriato da Cruz, mantendo-se em activida<strong>de</strong> pelo menos até 1957, quando<br />

por efeito da repressão muitos dos seus membros são presos e Viriato é obrigado a sair<br />

<strong>de</strong> Angola, vindo para a Europa. Trata-se <strong>de</strong> uma iniciativa orgânica à margem do <strong>PCP</strong>,<br />

com os próprios estatutos a serem inspirado nos do PC do Brasil, “aspirando a<br />

contactos com o Partido Comunista da União Soviética”, como esclarece Marco<br />

António, um dos seus fundadores 1084 .<br />

Francisco da Conceição Louro contacta, com cre<strong>de</strong>ncial do <strong>PCP</strong>, o que sobra da<br />

organização comunista angolana, tentando sem êxito harmonizar a situação, com muitos<br />

dos antigos quadros do PCA a recusarem a tutela ou <strong>de</strong>pendência dos comunistas<br />

portugueses.<br />

No entanto, parecia ir ganhando terreno a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma maior eficácia <strong>de</strong><br />

organizações mais amplas, que pu<strong>de</strong>ssem, do ponto <strong>de</strong> vista social e político, agregar<br />

1082 Cf. IAN/TT, Pi<strong>de</strong>/DGS, P. 8512-E/GT, Cópia <strong>de</strong> Autos <strong>de</strong> Declarações <strong>de</strong> António <strong>de</strong> Figueiredo e Meneses da Graça do<br />

Espírito Santo, <strong>de</strong> 7 e 10 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1962, [6-16]<br />

1083 Cit. i<strong>de</strong>m, p. 84<br />

1084 Cit. in Marcelo Bittencourt, Dos jornais às armas, Vega, <strong>Lisboa</strong>, 1999, p. 179<br />

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