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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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argumentando falta <strong>de</strong> condições objectivas, mas também <strong>de</strong> organização, para que não<br />

incrementasse o impulso que se erguia contra o governo.<br />

Apesar da fraqueza orgânica do seu sector, reconhece que a disposição e a<br />

combativida<strong>de</strong> popular ultrapassam largamente a capacida<strong>de</strong> do partido e que há<br />

retracções ao recrutamento ou à militância activa por parte <strong>de</strong> gente <strong>de</strong>siludida por não<br />

existirem perspectivas <strong>de</strong> radicalização, que passassem, por exemplo, por acções<br />

violentas. Ouvia dizer a muitos que tentava recrutar – “Lá organizado não quero, [mas]<br />

quando chegar a hora <strong>de</strong> pegar numa metralhadora, contem comigo” ou “Já oiço falar<br />

nisso há que tempos, isto só vai a tiro”.<br />

E acrescentava:<br />

“ninguém me perguntou pela saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manuel Rodrigues [da Silva,<br />

dirigente preso há vários anos e bastante doente, cuja libertação o partido<br />

reclamava insistentemente] mas muitos camaradas já me perguntaram se<br />

sabia alguma coisa <strong>de</strong> Varela Gomes.<br />

Pergunto muito concretamente, camaradas: tudo isto representa medo<br />

<strong>de</strong>vido à repressão ou representa falta <strong>de</strong> uma razão para enfrentar a<br />

repressão? Por outras palavras: Não estarão as pessoas a ter falta <strong>de</strong><br />

confiança na eficácia dos métodos <strong>de</strong> luta preconizados pelo Partido e por<br />

isso não vêm razão para se sacrificarem por eles ? “ 1234 .<br />

O relatório, escrito na ressaca das goradas manifestações do 5 <strong>de</strong> Outubro,<br />

verberava sobre a convocação <strong>de</strong> mais manifestações pacíficas, quando o governo<br />

estava ferido. Não hesita mesmo em comparar o que se estava a passar com o que se<br />

verificara com a jornada nacional pacífica, no rescaldo das eleições <strong>de</strong> 1958, <strong>de</strong>pois do<br />

povo ter andado em confrontos <strong>de</strong> rua e à pedrada à polícia.<br />

Questiona o que se teria passado em Maio <strong>de</strong>sse ano <strong>de</strong> 1962 se grupos <strong>de</strong> choque<br />

tivessem assaltado <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> armas e as tivessem distribuído pela população, se<br />

outros grupos tivessem ocupado <strong>de</strong>terminados locais estratégicos da cida<strong>de</strong>, se outros<br />

tivessem ocupado a rádio. E, pessimista, prosseguia, discorrendo que, a continuar como<br />

até ali, “corremos o risco <strong>de</strong> que passe a “época” das gran<strong>de</strong>s manifestações como já<br />

passou a das gran<strong>de</strong>s greves. Têm os camaradas alguma dúvida quantos aos<br />

sentimentos dos milhares <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>scem à rua ao apelo <strong>de</strong> um Partido que<br />

coloca como sua palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m essencial a insurreição?” 1235 .<br />

1234 TCL, 4º JC, P. 151/63 [44703], 4º vol., Consi<strong>de</strong>rações sobre a situação actual, Outubro <strong>de</strong> 1962, dact., p. 4, apenso a fls 307<br />

1235 I<strong>de</strong>m, p. 6<br />

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