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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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dadas as características da reunião, viria, naturalmente, a ser aprovado por aclamação 397 ,<br />

on<strong>de</strong> constavam as reclamações políticas para aquele momento concreto.<br />

Esse documento, para além <strong>de</strong> consagrar o restabelecimento das liberda<strong>de</strong>s<br />

fundamentais, a amnistia para os presos políticos, a extinção do Tarrafal, a abolição da<br />

Censura ou a realização <strong>de</strong> eleições livres, com o que o <strong>PCP</strong> evi<strong>de</strong>ntemente concordava,<br />

acrescentava, no entanto os princípios <strong>de</strong> uma nova lei eleitoral, on<strong>de</strong> omitia o princípio<br />

do sufrágio universal, que substituía pela expressão “alargamento dos sufrágios”, que<br />

<strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> fora principalmente os analfabetos.<br />

Em 1950 a taxa global <strong>de</strong> analfabetismo ainda se cifrava acima dos 48%, o que<br />

dá uma i<strong>de</strong>ia dos contingentes <strong>de</strong> homens e mulheres que nessa perspectiva<br />

continuavam excluídos <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> eleitoral. Para o Partido Comunista isto era<br />

inconcebível:<br />

“Não fazendo tal reclamação, o MUD mostra uma vez mais a existência<br />

no seu seio <strong>de</strong> tendências anti-<strong>de</strong>mocráticas que divorciam o MUD das<br />

classes trabalhadoras e reflectem o (...) receio do povo e das massas. O<br />

Partido Comunista não po<strong>de</strong> naturalmente apoiar uma reclamação do<br />

MUD que exclue do voto a gran<strong>de</strong> massa dos trabalhadores portugueses<br />

con<strong>de</strong>nados ao analfabetismo pela política <strong>de</strong> obscurantismo e dos<br />

sucessivos governos <strong>de</strong> Salazar” 398 .<br />

Defen<strong>de</strong>r um governo <strong>de</strong> “portugueses honrados” que preparasse as eleições que<br />

abririam caminho à construção da <strong>de</strong>mocracia no país e não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o sufrágio<br />

universal seria, para o <strong>PCP</strong>, não só ilógico como insensato e quase suicidário.<br />

Em finais <strong>de</strong> 1946, o movimento putschista reanimava-se. No entanto, a fixação<br />

da Junta Militar <strong>de</strong> Libertação Nacional em penetrar em profundida<strong>de</strong> nas áreas da<br />

entourage militar do regime tornavam-no permeável a toda a espécie <strong>de</strong> jogos duplos<br />

que alguns oficiais superiores mantinham a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do Exército e em conexão<br />

com o governo, incutindo repetidamente a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> adiamento do golpe.<br />

A i<strong>de</strong>ia fundamental continuava a ser agir na base <strong>de</strong> um compromisso político<br />

que consistia em apear Salazar, revogar ou rever a Constituição e preparar uma<br />

transição mo<strong>de</strong>rada para um regime <strong>de</strong>mocrático.<br />

397 Cf. A Comissão Central do Movimento <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> Democrática, Proposta da Comissão Central do MUD aprovada por<br />

aclamação na reunião <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1946, no salão da “Voz do Operário”, <strong>Lisboa</strong>, 30 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1946, cicl., 2<br />

pp.<br />

398 O Partido Comunista Ante Algumas Tendências Prejudiciais..., p. 14<br />

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