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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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libertação <strong>de</strong> Cunhal, prosseguindo, redimensiona-se no contexto da luta pela amnistia e<br />

pela libertação dos presos políticos e muito menos na caudalosa adjectivação com que<br />

era envolvida a biografia do dirigente do <strong>PCP</strong>. Eram os efeitos da crítica ao culto da<br />

personalida<strong>de</strong>, inspirado nos ventos krutchovianos pois XX Congresso do PCUS.<br />

Anos mais tar<strong>de</strong>, no processo <strong>de</strong> rectificação do “<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita” a crítica ao<br />

culto da personalida<strong>de</strong> no <strong>PCP</strong> é consi<strong>de</strong>rada excessiva, na medida em que não tendo<br />

havido “culto da personalida<strong>de</strong>” no <strong>PCP</strong>, ter insistido nesse aspecto significou,<br />

objectivamente, minar numa perspectiva anarquizante o prestígio e a popularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alguns dirigentes, que era o mesmo que dizer, <strong>de</strong> Cunhal 1791 .<br />

Álvaro Cunhal, pelos seus méritos e capacida<strong>de</strong>s, tornara-se efectivamente, logo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1942-43 como o principal dirigente do <strong>PCP</strong> e assim se reafirmaria <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

1960; mas a popularização <strong>de</strong>ssas qualida<strong>de</strong>s, como <strong>de</strong> todo o seu percurso político e<br />

partidário parecem, <strong>de</strong> qualquer modo, entroncar no culto que particularmente no<br />

período entre 1950 e 1956 lhe foi circunstancialmente <strong>de</strong>dicado e que, <strong>de</strong>pois, mesmo<br />

corrigido e criticado por alguns dos que mais o fomentaram, como reenquadrado por<br />

outros, permaneceu duradouramente entre os militantes, ainda que contido nos sóbrios<br />

limites que o próprio geriria.<br />

Tal como na generalida<strong>de</strong> dos Partidos Comunistas, também no <strong>PCP</strong>, ao culto<br />

dos dirigentes associava-se o culto dos heróis e dos mártires no quadro da afirmação do<br />

partido como “autorida<strong>de</strong> simbólica”, legitimada pelos exemplos <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong> coragem,<br />

em particular <strong>de</strong> todos aqueles que tombaram no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong>sse combate.<br />

Num texto com intenções literárias, Soeiro Pereira Gomes, <strong>de</strong>senvolve essa i<strong>de</strong>ia<br />

a propósito do assassinato <strong>de</strong> Alfredo Dinis, ocorrido em 1945:<br />

“Se por aí, tão longe, vires o Bento, o Cal<strong>de</strong>ira, o Marquês e outros, dá-lhes<br />

lembranças nossas. Que nunca os esquecemos. Glorificamos os seus nomes com as<br />

nossas lutas.<br />

Num amanhã rutilante que vem perto, quando findar a noite ilegal que nos<br />

ensombra – tu e eles virão, aos ombros dos velhos lutadores, para o templo dos heróis:<br />

a História do Partido Comunista. Ban<strong>de</strong>iras vermelhas com o sangue dos mártires hão-<br />

<strong>de</strong> envolver os vossos corpos. Braçadas <strong>de</strong> flores <strong>de</strong> todos os jardins proletários se<br />

<strong>de</strong>sfolharão sobre vós. Bocas que mal sabiam cantar hão-<strong>de</strong> entoar um hino<br />

revolucionário. E hão-<strong>de</strong> brotar lágrimas <strong>de</strong> muitos olhos, tão puras como as lágrimas<br />

da tua companheira.<br />

1791 Cf. Reunião do Comité Central do Partido Comunista Português, in O Militante, III série, 108, Janeiro <strong>de</strong> 1961<br />

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