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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Para estes dirigentes é como que se tivessem libertado <strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong><br />

subalternida<strong>de</strong> em relação a Fogaça. Mas, na realida<strong>de</strong>, as propostas da solução pacífica,<br />

como a subestimação da classe operária, vingaram plenamente, e durante anos, no<br />

partido.<br />

Dias Lourenço foi inclusivamente o autor <strong>de</strong> um dos mais importantes artigos<br />

em O Militante 989 , a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r precisamente a solução pacífica., justificando ter sido<br />

incumbido <strong>de</strong>ssa tarefa, com a qual nem concordaria 990 , numa expressão <strong>de</strong> aceitação<br />

<strong>de</strong> uma disciplina interna que afinal assentaria em muito pouco <strong>de</strong> discussão colectiva,<br />

como aliás genericamente todos reconhecem.<br />

Uma das conclusões <strong>de</strong>ssas reuniões, em relação à qual vários elementos se<br />

pronunciam refere-se ao reconhecimento <strong>de</strong> que o nível político e i<strong>de</strong>ológico dos<br />

membros do CC era baixo. As limitações políticas mais arreigadas residiam não em<br />

glosar ou <strong>de</strong>sdobrar para sectores específicos a orientação partidária estabelecida, mas<br />

sim em receber e digerir as alterações e inflexões abertas por novos quadros<br />

conjunturais.<br />

Naturalmente que o funcionamento clan<strong>de</strong>stino condicionava esta situação.<br />

Eram muito escassos os dirigentes que produziam doutrina e faziam-no como que por<br />

cima do Comité Central que, mais que discuti-la, a aceitava. Provavelmente muito por<br />

isso, dirigentes que secundaram Fogaça passassem tão rapidamente a apoiar o<br />

movimento <strong>de</strong> rectificação iniciado.<br />

Na realida<strong>de</strong>, a maioria membros do Comité Central em exercício haviam estado<br />

com Álvaro Cunhal na crítica à Política <strong>de</strong> Transição quinze anos antes; haviam sido<br />

chamados nessa fase ao CC ou eram quadros clan<strong>de</strong>stinos que vinham <strong>de</strong>sses tempos.<br />

Velhas cumplicida<strong>de</strong>s e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s reemergiam, facilitando a reorientação em curso ao<br />

mesmo tempo que se cruzavam com ressentimentos <strong>de</strong> diferente intensida<strong>de</strong>.<br />

Júlio Fogaça seria rapidamente isolado e vencido, todavia mantido no Comité<br />

Central. No fundo, reeditava-se a metodologia <strong>de</strong> condução e a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senlace<br />

prático do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate interno que Álvaro Cunhal conduzira em torno da Política<br />

<strong>de</strong> Transição, no final da <strong>guerra</strong>. Tratava-se <strong>de</strong> sistematizar as posições em confronto,<br />

dar-lhes enquadramento político, algum conteúdo i<strong>de</strong>ológico e partir daí para as rebater,<br />

esvaziando as bolsas <strong>de</strong> apoio, isolando os que, por obstinação ou convicção, se<br />

989 Cf. João [António Dias Lourenço], Acerca da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma solução pacífica, in O Militante, III série, Outubro <strong>de</strong><br />

1958<br />

990 Cf. Entrevista a Francisco Martins Rodrigues…<br />

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