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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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“(...) a Reforma Agrária que preconizamos e pela qual estamos dispostos a lutar<br />

é uma Reforma que acabe com os latifúndios distribuindo-os em parcelas pelos<br />

assalariados e camponeses que não disponham <strong>de</strong> terra suficiente para viver” 762<br />

Mas, a popularização e discussão da proposta <strong>de</strong> Reforma Agrária no seio do<br />

próprio partido parece não ter tido, mesmo nos sectores rurais, uma profundida<strong>de</strong> e<br />

assimilação significativas.<br />

Prevalece uma abordagem imediatista, que se reporta à situação concreta dos<br />

assalariados do sul, às estratégias <strong>de</strong> luta. Era <strong>de</strong>ste ponto <strong>de</strong> vista que mais intervinham<br />

os <strong>de</strong>legados. Mesmo manifestando dúvidas sobre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Reforma Agrária, um dos<br />

<strong>de</strong>legados, assalariado rural, R., provavelmente Diogo Velez (Rogério), discordando<br />

que mesmo em regime socialista ainda fiquem proprietários com hectares <strong>de</strong> terra para<br />

po<strong>de</strong>rem arrendar, é nas consdições <strong>de</strong> vida dos assalariados sem terra que se focaliza:<br />

“A sua e a minha miséria, camaradas, vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a precária alimentação<br />

que é um bocado <strong>de</strong> pão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma gota <strong>de</strong> água, e pouco mais, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> um dia e parte da noite <strong>de</strong> um trabalho árduo a que somos submetidos<br />

pela camarilha salazarista, até às promíscuas habitações em que vive<br />

gran<strong>de</strong> parte da população da minha terra, que muitas vezes são sacas <strong>de</strong><br />

adubo que lhe servem <strong>de</strong> abrigo. É por este estado <strong>de</strong> coisas que aqui <strong>de</strong>ixo<br />

exposto, que me indigno e ao mesmo tempo sinto repugnância por toda a<br />

camarilha salazarista, que são inclusive os tais monopolistas da terra, para<br />

quem o Programa que o nosso Partido preconiza[,] ainda conce<strong>de</strong> umas<br />

regalias, quanto a mim um bocado exageradas…” 763<br />

Muitos dos temas que o Informe e as intervenções escritas carreavam<br />

enovelavam-se com o que po<strong>de</strong>ria dizer mais directamente respeito ao programa do<br />

Partido, cuja discussão e aprovação sendo matéria <strong>de</strong> um ponto específico da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

trabalhos do congresso teria acabado por ser objectivamente <strong>de</strong>svalorizado.<br />

O que mobilizava os <strong>de</strong>legados, o que verda<strong>de</strong>iramente os interessava, <strong>de</strong> acordo<br />

inclusivamente com o seu estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento i<strong>de</strong>ológico, não era propriamente<br />

um documento programático, suficientemente geral, para não lhes fornecer indicações e<br />

orientações concretas para a intervenção partidária no dia a dia.<br />

762 Ferreira [Joaquim Gomes], V Congresso do Partido Comunista Português, Os problemas da terra e a aliança da classe<br />

operária com os camponeses, Edições “Avante”, 1957, p. 5<br />

763 I<strong>de</strong>m, pp 8-9<br />

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