19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Este tipo <strong>de</strong> preocupações <strong>de</strong> teor mais utilitário e instrumental sobrepunham-se<br />

ao próprio conteúdo do programa eleitoral <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos e os <strong>de</strong>sentendimentos e<br />

divergências passavam mais por aqui do que por aspectos programáticos <strong>de</strong> substância.<br />

Isto é particularmente visível na questão colonial, aspecto que é habitual<br />

consi<strong>de</strong>rar como mais conservador no pensamento político do general, cujo manifesto<br />

reflectia uma mentalida<strong>de</strong> intrinsecamente colonialista.<br />

A nação era encarada em termos pluricontinentais, a unida<strong>de</strong> nacional alicerçava-<br />

se dois pilares - a unida<strong>de</strong> territorial, como se o país constituísse “um território único e<br />

contínuo”, e a valorização das colónias, como valorização da nação, o que significava<br />

dizer que “não há política colonial, há apenas política nacional” 434 .<br />

Curiosamente, ainda antes, a mais <strong>de</strong> um ano do lançamento formal da<br />

candidatura, o texto do abaixo-assinado promovido pelo MUD Juvenil, referindo-se à<br />

acção do general como Alto-Comissário <strong>de</strong> Angola, consi<strong>de</strong>ra ter lançado “as bases<br />

duma obra <strong>de</strong> fomento colonial que ainda não <strong>de</strong>u todos os seus frutos” 435 .<br />

No mesmo sentido, se pronunciava, pelos intervalos da malha censória, um<br />

editorial da revista Vértice, o principal porta-voz legal da intelectualida<strong>de</strong> comunista,<br />

numa altura em que a candidatura se encontrava em fase avançada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão política.<br />

Aí se verbera, por exemplo, a forma pitoresca, anedótica ou lucrativista com que<br />

são predominantemente encaradas as questões coloniais, porque, e nestes precisos<br />

termos, é “absolutamente oposta às nossas responsabilida<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s, e<br />

contrárias aos interesses nacionais, porque é incapaz <strong>de</strong> servir a gran<strong>de</strong> tarefa <strong>de</strong><br />

construção do Ultramar”. Sustenta o editorial a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “esclarecer, esclarecer<br />

cada vez mais e sempre, sobre quanto é fundamental uma verda<strong>de</strong>ira obra <strong>de</strong><br />

colonização”, para concluir que só da adopção dum vasto leque <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> fomento<br />

no campo económico e social, “permitirá realizar a obra que integre as nossas colónias<br />

num Portugal progressivo e feliz” 436 .<br />

É interessante como no citado relatório <strong>de</strong> Joaquim Campino a questão colonial é<br />

completamente omissa no rol <strong>de</strong> aspectos políticos que mereceriam ter tido outra<br />

abordagem.<br />

Na realida<strong>de</strong>, esta questão não era, nem na linha política aprovada pelo<br />

congresso <strong>de</strong> 1946, um aspecto relevante. Álvaro Cunhal <strong>de</strong>dicara-lhe então escassas<br />

páginas on<strong>de</strong> o odioso da política salazarista não residia na exploração colonial, mas<br />

434 Norton <strong>de</strong> Matos, À Nação, in República, 3 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1949<br />

435 MUD. Comissão Central, A juventu<strong>de</strong> saúda Norton <strong>de</strong> Matos...<br />

436 Problemas coloniais, in Vértice, 55, Março <strong>de</strong> 1948, pp 173-174<br />

171

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!